O DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA
*O dia da consciência negra
O dia 20 de novembro tornou-se mais importante para os negros que a abolição da escravidão. Isso porque simboliza a resistência e força de um povo que, apesar de ser submetido a diversas formas de discriminação sua capacidade de luta e fé jamais foi abalada; além desses aspectos, o dia da consciência negra é resultante de uma conquista histórica.
A história reconhece a Princesa Isabel pelo fato de sancionar a Lei denominada Áurea. Entretanto, o recontar dos acontecimentos permite rever e reavaliar a história e abre espaços para se fazer justiça. O dia 20 de novembro é um desses momentos, porque nos apresenta um povo capaz de lutar por sua liberdade e por seus valores.
Um dos nossos grandes ícones está personificado na figura de um negro ilustre: Zumbi dos Palmares. Porém, nem a lei áurea e nem o dia da consciência negra conseguiram neutralizar as conseqüências maléficas do preconceito que destrói a dignidade humana em pleno século XXI.
Preconceito I
O preconceito está impregnado no comportamento humano. Sua manifestação se dá de modo espontâneo e velado, embora seja um sentimento mesquinho e cruel. Cruel porque nega a humanidade do outro; é uma das piores formas de violência disseminada pela sociedade. Poder-se-ia afirmar, sem dúvida, de que faz parte do rol das causas de exclusão e marginalidade.
As maiores tragédias da história humana foram provocadas pelo preconceito. A intolerância é uma de suas conseqüências; seja de natureza racial, social, econômica, religiosa ou política. As suas mais variadas facetas devem ser repudiadas com vigor. O preconceito se disfarça na hipocrisia das pessoas, quando não admite sua existência nos relacionamentos sociais. Se houver conscientização nesse aspecto, será mais fácil desenvolver uma nova maneira de comportamento construtivo, que valorize o ser humano.
Preconceito II
Eu acreditava estar imunizado contra atitudes discriminatórias de natureza racial ou não. Sentia-me tranqüilo e sereno porque, segundo meu entendimento, havia aprendido a conviver sem traumas com a intolerância de pessoas que usam brincadeiras de mau gosto para exprimir o preconceito contra a negritude.
A gente consegue criar um filtro para minimizar as marcas do racismo com objetivo de estabelecer relacionamentos saudáveis entre os diferentes. Só que descobri não ser tão imunizado assim. Um dos maiores absurdos observados é a atitude preconceituosa de algumas pessoas ditas “religiosas”. O preconceito ainda causa um estrago enorme em mim e, por isso, toco na questão religiosa. Posso falar de minha religiosidade, afinal, sou católico praticante e sou convicto de minha opção de fé.
Na Igreja não deveria haver espaços para o preconceito; entretanto, e talvez seja essa a razão pela qual estou indignado: a origem da manifestação discriminatória. Uma pessoa dita religiosa e membro da mesma atividade católica revelou todo seu preconceito, ódio e inveja referindo-se a mim como “crioulo safado”. Existe a lei contra o preconceito, mas, não é fácil abrir um processo porque as pessoas não querem se envolver e é muito difícil provar que alguém agiu de forma preconceituosa. A verdade é que o preconceito machuca. Ninguém é obrigado a gostar do outro; no entanto, a cor da pele não deveria motivar ódio e rancor.
Preconceito III
Transcrevo trechos de um artigo de Bernardo Seabra Publicado no site www.sadhana.com.br
em 03/04/2003
"....O preconceito racial atualmente é questionado pela ciência como no texto apresentado de Sérgio Danilo Pena (especialista em mapeamento do código genético), visto que a ciência ao decifrar nosso código genético comprovou que as diferenças no DNA entre brancos e negros são efêmeras e praticamente inexistentes. Partindo desse pressuposto, já seria uma ignorância tentar distinguir raças e o pior caracterizá-las e discriminá-las.....
....Não só os negros foram vítimas da ignorância humana, mas também outros grupos e etnias como os ciganos, mulheres e judeus. A injustiça social, então passou a excluir cada vez mais grupos desfavorecidos. Esse processo histórico deixou conseqüências nefastas às mais variadas pessoas.
Estamos agora em pleno século XXI e com mapeamento do nosso código genético decifrado. A ciência nos provou que na verdade não há raças na espécie humana, mas apenas pequenas variações genéticas para que o homem possa se adaptar melhor no meio em que vive. Não é mais pertinente o preconceito racial, já que raças não existem..."
*Texto Escrito em 2004