Pela Redução de Danos

“De como o homem pode ser forte e suave ao mesmo tempo (...) Corrigir sem melindrar”. Marco Aurélio

O milagre do bolso cheio empresta a si próprio o que retira dos pobres em nome de Deus. Nada como uma carinha de santo aliado à meiguice popular. É a bondade do povo imersa na degradação educacional diante das novas tecnologias, e distante da realidade das bases. Religiosos são políticos sem critério eleitoral. Tanto o processo quanto a arrecadação são semelhantes, sem falar na oratória dos anjinhos. O “Show da Fé” na figura de seu apresentador recebeu a verdadeira graça divina: um king Air 350, turboélice. O aviãozinho custou em torno de cinco milhões de dólares. O grande ramo espiritual só mudaria diante do incentivo para guardar o templo no próprio coração. Porém a vaidade só pode existir para o outro. Guardar o próprio templo no próprio coração, num acesso de consciência individual, sobre as especulações da fé, levar-nos-ia ao reconhecimento da luta que travamos para alcançarmos o paraíso interior.

Por falar em paraíso interior a cruzada pela descriminalização dos “anestésicos populares”, para que não se transformem em armas, podendo ser colhidos como tranquilizantes no quintal; crescentes como fúcsias (não confundir com fuzis) num gesto de liberdade agrícola, longe de atravessadores perigosos; possui no alto escalão um lúcido: Ilmo.sr. Fernando Henrique Cardoso. Verdadeiro Sartre na questão das drogas. Dispensando a hipocrisia do acúmulo do mal sobre a fraqueza humana numa sociedade repleta de retaliações as liberdades individuais. Defende a descriminalização sem incentivo (diferente dos hipócritas simpáticos às armas) como estratégia para redução de danos sobre a pobreza. Visualiza a liberdade como meio regulador para tal fator econômico que é “redentor” enquanto “capital” nas favelas, malocas e bibocas. Transitando como oportunidade aos desprovidos e alijados deste país. Somente uma boca política pode compreender a realidade que precede uma boca de fumo.

A mercê da raiva canina daqueles que dispensam a liberdade aos viciados entre dois dedinhos de cachaça, vão aqui três ilusões poderosas reunidas; pois a procura de satisfação interior é ordem humana, numa sociedade onde o homem apenas age, sem capacidade de reagir. Por onde tais mecanismos são consequências lógicas da necessidade prática do paraíso. Paraíso vendido, fartamente ofertado a jato, mecanicamente realizado, mesmo que após o milagre a utilidade dos remédios de praxe acabem com os iludidos numa unidade de tratamento intensivo. Unidade de tratamento pobre e desprovidas de drogas.