Enfim um Papai Noel de Verdade
Multidões, no pátio do Shopping, com suas crianças risonhas e felizes, aguardavam a chegada do helicóptero, trazendo o bom velhinho, como habitualmente ocorre a cada ano, algum tempo antes do Natal. Era grande a expectativa de todos, aguardando com muita ansiedade aquele velho de barbas brancas, roupa vermelha, que gosta muito de presentear crianças. Aproxima-se o helicóptero, voando baixinho, e eis que o tão esperado Papai Noel, usando um megafone, faz a tradicional saudação, com aquele hô-hô-hô e anuncia que desta vez não vai descer ali no Shopping. Diz que vai para a periferia da cidade, vai visitar as crianças das favelas que, não tendo roupa nem calçados, não podem vir ao Shopping para conhecê-lo. Sem tocar o chão, o helicóptero ganha altura até sumir da nossa visão, rumo a uma direção desconhecida. Uma decepção para as ricas crianças que anualmente fazem aquela festa, com a sua chegada.
Algum tempo depois, pelo rádio, ouvimos notícias sobre o seu roteiro. Foi às partes mais pobres da cidade, onde carretas com toneladas de presentes já o aguardava para, sob sua ordem, distribuí-los a tantas crianças carentes. Em seguida, visitou os presídios, onde só pobres e pretos estão encarcerados, e ali deixou alguns presentes, além de uma mensagem sobre as injustiças sociais. Depois, foi aos hospitais e visitou as enfermarias, onde ficam os doentes sem plano de saúde. A todos deixava uma mensagem de esperança, dizendo que o Brasil vai mudar. Continuando a sua abençoada jornada, voou em direção ao meu sertão, lá para as bandas do São Francisco. Estava eu à sua espera, na condição de uma criança que nunca tinha visto um Papai Noel de verdade. Ouvi um barulho, o ronco de um helicóptero, assustei-me, acordei-me...
E o danado do helicóptero sumiu e foi pousar lá no pátio de Shopping.