FAZ-DE-CONTA E A MORTE DOS SONHOS ADIADOS...
Os nossos dias são um eterno faz-de-conta...
Faz de conta que somos felizes...
Faz de conta que está tudo bem...
Faz de conta que não existem problemas...
Faz de conta... faz de conta... faz de conta...
- Finalmente descobri que quando estou mal bloqueio... bloqueio o que me rodeia... desligo e fico numa semi-apatia não querendo ver, nem ouvir ou falar com alguém... Fecho-me, isolo-me e fujo até de mim...
Mas houve um tempo que não era bem assim, conseguia fazer de conta que driblava tudo e revertia as situações. Anos e anos fazendo de conta que não chorava, que os problemas iam e vinham sem que para mim apresentassem dificuldades...
Anos a fio fazendo de conta que era uma fortaleza e que não iria dar parte de fraca, nem ninguém me iria ver chorar. Me auto convencia que era superior e invencível à dor... Fazia de conta que era como um Dom Quixote de Saias, alimentando os meus Moinhos de Vento, com uma couraça de alegria...
Depois duma infância de rejeições, o desejo de ser feliz era como que uma necessidade imperiosa, eu me cobrava demais e as coisas nem sempre corriam de feição, mas tentava ignorar e fazia de conta que iria dar certo...
Adiei meus sonhos de realização pessoal, deixei minhas artes de lado, para cuidar dos filhos, sem arrependimentos, mas com muitas cobranças...
Sempre me cobrei e lhes cobrei, para que tudo fosse certo e correto demais, como se tivesse o dom da perfeição... Deixei de pensar como ser humano falível... Fiz de conta que era infalível... Ah, ledo engano!
Quando todos os silêncios se transformaram em gritos e quando a noite começou a descer sobre o pensamento, não houve música, nem carícias que aliviassem a tristeza e o pesadelo imenso ao acordar e descobrir que o mundo era o mesmo da noite anterior, que me fazia sentir como uma escrava indefesa perante o "tronco," para ser açoitada...
O "armazém" encheu e deixei de conseguir fazer de conta, quando me dei conta que não tinha sido o peso do sonho que fechou meus olhos, mas sim uma dor imensa e indescritível:
- A morte dos sonhos adiados!
E foi aí que parei de conseguir o joguinho de fazer de conta, por muito que tente não dá mais...
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..."vivo ao relento contando estrelas... sonhando com Tágides...Ninfas tão belas!"...
By@
Anna D'Castro
(D.A.Reservados)
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