ESTRANHOS NO NINHO





Todas as manhãs, a imaginação viaja naquelas penas amarelas. Da janela do meu quarto, vejo que está ali, sempre no mesmo lugar e em silêncio. Nenhum pio. Parece esperar.

 
Espero também mergulhada em indagações. Faço companhia imaginária. Será que deseja? Pensa? É capaz de enxergar sua imagem refletida no vidro do carro? Quem sabe, busca encontrar alguém como a si próprio?

 
Dia após dia, observo. E as asas do pensamento arriscam outro vôo. Somos almas inquietas ligadas pela natureza livre. Ele vem até a porta do meu carro, todos os dias, por instinto. Mais um estranho no ninho, longe dos bandos. Assim como os seres humanos que pensam por si e realizam a singularidade de seus traços.


Esta liberdade cobra um preço. O sentido da existência sem bengalas, nem alienação crítica. A recusa em massificar a estrada da vida. E para ele? Curiosidade, aventura, turbulência e muitos vôos solitários.
 

Hoje, pela manhã, o passarinho pousou no lugar habitual. Perdi a hora e não o aguardava na janela do quarto. De repente, pela primeira vez, ouvi seu trinado. Sorri ao imaginar que chamava por mim: outra estranha no ninho. 


E enquanto dirigia para o trabalho, assobiava...






(*) Crônica desenvolvida a partir da imagem
Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 16/11/2009
Reeditado em 16/11/2009
Código do texto: T1926478
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