De encontro com as próprias verdades...

Por que é que ele se olha tanto? O que procura que o faz olhar tão fixamente o espelho? Se for pra admirar sua própria beleza eu acredito. Afinal, ele é mesmo lindo! Talvez procure algo dentro dos olhos. Olhar os próprios olhos pode ser uma bela experiência de encontro com as nossas verdades. Parece obvio, mas nunca nos encaramos profundamente. Descobrir nossas verdadeiras faces dá certo medo, vergonha, sei lá. Mas ele não. Ele se olha profundamente no espelhinho do carro, e fica ali, intacto, pensando sabe-se lá o quê. Feito Narciso nas águas da lagoa de Eco, admira-se como quem olha uma obra de arte, e de fato a cena toda é uma arte. Se o espelho reflete todos os nossos pensamentos, nesse caso, quero acreditar que vem todos os dias só pra fazer seus pensamentos positivos. E o azul do céu que contrasta com seu amarelo na cena, faz qualquer um pensar positivo. Mas se eu perguntasse a ele: “Por que se olha tanto?” ele me responderia: “Preciso me conhecer. Se os olhos são espelhos da alma, me fito profundamente pra ver se consigo ver a minha.” E eu insisto: “mas por que quer ver a sua alma?” e ele me cala: “Porque ela pede pra voltar a um lugar que tenho saudade. Se sou o único responsável pela minha felicidade, devo dizer que minhas asas não voam pra tão longe. Minha alma precisa aceitar”. Eu passaria horas olhando pra ele. Amar é um delito insolúvel e impossível, mas os olhos não escondem o que a alma pede. Lamentável, amigo passarinho.

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Texto feito através da imagem de um passarinho amarelo olhando-se no espelho.

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 16/11/2009
Reeditado em 24/07/2012
Código do texto: T1926477
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