MINHAS JANELAS .

     
    Moro numa casa  de dois pavimentos, com cômodos arejados e muitas janelas. Não é exatamente uma mansão e muito menos a casa mais bonita do condomínio mas é ali, naquela casa pintada de amarelo que escrevo meus textos, guardo meus segredos e é  de suas janelas que começo o dia olhando para a vida e dou as boas vindas para o amanhecer.

     Tenho uma grande amiga que certa vez me disse que todos os dias quando acorda abre sua janela e, chova ou faça sol, ela dá um bom dia todo especial para a luz, para os raios do sol. Como sempre me fala, cada dia é uma nova benção.

     O interessante é que as janelas aqui da minha casa não são iguais entre si. Uma ou outra podem até ter o mesmo tamanho mas, observando bem, elas não são iguais.

    A do meu quarto por exemplo dá para a rua interna do condomínio e dela vislumbro a casa da frente e em todas as manhãs praticamente se repete a mesma cena , vejo a vizinha limpando as sujeiras dos seus quatro cachorros.

    Depois ela molha as plantas de um pequeno canteiro e nos dias pares coloca o cesto de lixo na porta da garagem.

   Desta mesma janela e ao fundo, bem distante, percebo um morro com pouca vegetação e que, lamentavelmente vai sendo engolido pelo crescimento desordenado de mais uma favela.

    Geralmente acordo e saio de casa às carreiras mas, sempre que posso gosto de abrir uma das janelas dos fundos, a minha preferida, justamente a que dá para uma enorme montanha toda verde , coberta por uma majestosa vegetação.

    O mais bonito disso é que a cada vez que abro essa janela e olho para a montanha eu percebo alguma coisa diferente nela. Às vezes são focos de neblina, outras são nuvens desgarradas que acabam esbarrando na sua parte mais alta e lá uma vez ou outra, alguns enormes pássaros que dão voos rasantes sobre suas matas.

    A visão é linda, majestosa como já disse e traduz uma uma sensação de grandeza, de força, comprovando (e nem precisava ) a presença de Deus na construção da natureza.

    Gosto de olhar prá ela. Sinto como se estivesse me convidando para conhecer seus vales, seus caminhos, quem sabe provar da água das suas fontes.

    Mas assim de longe, vendo aquele verde e as nuvens que adornam sua parte mais alta, me pergunto o quanto ela não é insondável, indomável e quem sabe se me receberia bem, se abriria seus caminhos para que eu pudesse visitá-la.

    E então , mais uma vez eu confirmo os contrastes da vida. De uma das janelas eu vejo um morro descampado, engolido por uma comunidade carente e que se mistura com bandidos do tráfico aterrorizando todos nas suas imediações.

    Quer dizer, de uma das janelas eu vejo conflitos, dor, sofrimento e tristeza. Da outra , ao contrário, vejo uma linda montanha com seu verde ainda intocado, nuvens que beijam seus pontos mais altos e pássaros que fazem ninho em suas frondosas árvores.

     Flagrante aí a realidade das nossas vidas. Apesar de janelas que se abrem para o lado triste, carente, esquecido, sofrido, perseguido e humilhado, por outro lado, de outro ângulo, podemos ver a beleza da natureza, a majestade de uma montanha e sua condição de ser ainda indomável.

    As duas janelas fazem parte da minha vida. Isso quer dizer que mesmo que eu quisesse, não poderia olhar só onde o sol bate mais forte. Existe o lado das sombras também e isso é que nos faz entender que a vida até pode ser encarada como uma coisa simples de ser vivida.

     Inúmeras vezes tenho me perguntado como seria minha vida se eu só olhasse para a outra janela, aquela que me esconde o outro lado das coisas, aquela que, não necessariamente me ilude, mas que só me mostra aquilo que realmente eu gostaria de ver.

 

 

     O tempo e a vida têm me ensinado que nossa caminhada  neste planeta é recheada de contrastes. Por falar nisso, não vejo e nem sei dizer se realmente existem coisas que estão juntas, lado a lado e não se contrastam. Deixo essas duvidas para os poetas e os filósofos.

 

     O que sei dizer é que no meu dia a dia vejo de tudo e como sou um terrível observador das coisas, entendo que em tudo por tudo, na nossa jornada, na nossa existência sempre existirão duas janelas.

    E se querem saber, não conseguiria simplesmente sobreviver se não pudesse olhar pelas minhas duas janelas. Tudo bem , tem dia que o céu está nublado mas por por trás de nuvens escuras, sempre tem um sol brilhando.

     Na outra janela, morro descampado, comunidade carente, gente humilde, mas que com certeza para eles também existirão momentos de alegria, paz e felicidade.

      E quanto a montanha que vejo da outra janela, não sei, quem sabe um dia possa visitá-la , mesmo sabendo que para todo o sempre , enquanto o sempre existir, ela continuará ali, linda, majestosa, indomável, sendo beijada apenas pelos flocos de nuvens brancas......


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(.....imagem google.....)

 

 

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 15/11/2009
Reeditado em 21/02/2013
Código do texto: T1924699
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