ALUNO É ALUNO EM QUALQUER PARTE

Acredito que aluno é aluno em qualquer parte do mundo. Todos eles, com raríssimas exceções, passam a maior parte de suas vidas estudantis bolando planos infalíveis para ludibriar o professor, arrumar um esquema para se dar bem sem precisar estudar, ou de passar de ano sem abrir um caderno durante o período de aula.

Lendo uma crônica da escritora Edna Lopes*, eu fiquei maravilhado com o seu Manual sobre como passar de ano sem estudar, intitulado Manual do Aluno Meia Boca, onde, no seu capitulo primeiro, ela mostra, através da apresentação de trabalhos ou da arte de fingir que sabe, as artimanhas mais complexas de como se passar por um gênio. Interessantíssimo!

Bem, recentemente eu arrisquei uma nova faculdade, essa de Comunicação Social, na qual eu me formei na Habilitação de Jornalismo. E, lá no curso, encontrei um grande gozador da vida cotidiana. Uma pessoa que atravessa as turbulências do dia-a-dia com muito bom humor e tiradas espetaculares que, infelizmente, a falta de um gravador (para quem exerce a profissão de jornalista, não pode deixar de ter!) ou até mesmo uma memória melhor (outro item necessário no ofício) me impedem de traduzi-las aqui, na íntegra.

Entretanto, o manual de aluno do nobre colega não foge muito do manual da talentosa poetisa Edna Lopes. Segundo ele, aluno tem que impressionar, de cara, o professor. Pois, para o distinto, a melhor forma de defesa é o ataque (parece que ele já leu ou é adepto de O Senhor da Guerra), principalmente, se o aluno não tem o conteúdo necessário para se safar de uma situação delicada como, por exemplo, debater numa roda de nerds – estando um professor presente – sobre a complexidade dos ruídos existentes entre a emissão e a recepção de uma propaganda, quando há a interlocução de agentes sistematizados na interconexão do discurso.

Por isso, ele sempre circulava pelos corredores e dizia, para os mais chegados, de como fazia para superar os obstáculos que o curso – aliado a sua estafante rotina de bancário – se lhe apresentava. Assim, ele, logo cedo, planejava o seu dia na Universidade.

Para começar, dizia ele, aluno que não tem tempo para estudar, tem que chegar cedo à faculdade. Pois, professor que encontra o aluno, quando entra na sala de aula, com todos os livros relacionados por ele, para a bibliografia da disciplina, à sua espera, no mínimo, é considerado aplicado; portanto, o professor não o questiona muito e, com isso, ganha pontos.

Outro item importante: usar óculos cujas lentes imitem grau elevado, mesmo que o aluno não tenha problemas de visão. Isso serve para quando o professor citar uma referência, ele colocar os óculos – fundo de garrafa (é claro que não há grau nenhum!) e acompanhar com atenção a valorosa citação.

Em dia de seminário, trazer o material (pesquisado no Google – porém não pode imprimir o assunto se for dos primeiros itens relacionados na primeira página do citado site, principalmente se for do Wikipédia, mas o conteúdo da centésima vigésima quarta página, pois o professor, no máximo, só vai procurar nas cinco primeiras páginas para ver se o aluno deu um control C e, depois, um control V) junto com toda uma parafernália de ferramentas tecnológicas, incluindo aí, Pen-Drive, Notebook, Data Show (nesses casos, todos os slides e filmes já estão previamente selecionados e o aluno já anotou os passos – para ligar e depois utilizar as teclas para passar o material), além de dicionário específico do curso e de todos os livros dos autores utilizados na pesquisa.

Um lembrete: essa estratégia funciona melhor quando o aluno deixa para ser o último a apresentar o trabalho. Por se tratar do horário avançado, da sala já estar cheia de tantas teorias e prolixidades mil, do professor já não aguentar tantas bobagens ditas por quem não estudou direito o assunto, com certeza, só em montar tudo aquilo, mais o material para a exposição, de cara, já ganhou um cinco. O resto da nota vem com a apresentação dos colegas. Sim. Seminário tem que ser em grupo de, no mínimo, cinco pessoas. Quando o aluno monta o esquema, ele, automaticamente, já fica por último, o que lhe dá todas as vantagens, pois só precisa, quando chegar a sua vez, pegar duas ou três citações e falar sobre elas durante uns, digamos, dois minutos.

Por fim, o aluno nunca deve discutir ou questionar um raciocínio do professor. Concordar, nestes casos, não significa bajular, mas demonstrar interesse – de preferência, coloque-se numa posição de pensante, com a mão clássica de quem está sempre refletindo e, de vez em quando, franzindo o cenho, balançando, positivamente a cabeça, para deixar evidenciado que aquele assunto é da sua total interpretação.

É claro que o nobre colega – um homem capacitado e livre desses artifícios – apenas os coloca para ilustrar, com bom humor, o dia-a-dia complicado de quem se acha mais “esperto” que a maioria dos professores, estes, já calejados e acostumados com todos os tipos de manuais desenvolvidos pelos aprendizes de estratagemas para driblar os mestres.

Só uma pergunta básica: não dá menos trabalho procurar, simplesmente, estudar?


*Edna Lopes é pedagoga na capital de Alagoas, com pós em psicopedagogia, escritora e poeta, com trabalhos publicados no Recanto das Letras.

 




Obs. Imagem da internet


Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 15/11/2009
Reeditado em 07/12/2011
Código do texto: T1924667
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