NEGÓCIOS ONLINE

- Alô?

- Bom, minha senhora, aqui é da CRN, temos uma proposta para lhe fazer?

- CRN? Proposta?

- Um pacote com telefone, tevê a cabo, internet por cento e vinte e nove e noventa.

- E como vai funcionar isto tudo?

- A senhora terá muitas vantagens, como mais de quarenta canais, internet 3G, poderá falar vinte e quatro horas de local para local, sem pagar nada, tudo gratuito e mais...

- Moço, meu filho já tem internet e eu...

- Com um acréscimo de nove e noventa e nove, temos outra promoção onde está tudo incluído e ainda com a possibilidade de acesso a mais canais, mais memória, mais...

- Moço, eu não quero mais canais, nem mais memória.

- Quem sabe fechamos a primeira proposta, depois...

- Está bem!

- Dona C, a senhora me passa alguns dados: CPF? RG? Endereço? Banco? Agência?

- Minha conta? Mas não lhe conheço! Quer saber de uma coisa? Não quero internet, nem net, nem fone, nem nada. Tchau!

Aquela conversa me deixou exaurida. Joguei-me no sofá, liguei a TV e fiquei vendo qualquer coisa, sem prestar muita atenção. Sentia o peito apertado, meio sufocado.

Quando os negócios eram cara a cara, parecia tudo mais interessante. A gente ficava de frente para o vendedor. Sobre a mesa ele esparramava as várias alternativas. Enquanto a conversa rolava a gente toma guaraná ou um cafezinho. Se o negócio procedia e ambas as partes tinham interesses comuns, se firmava com um aperto de mão. Deste jeito de agora, as partes falam e falam rápido porque têm muitas informações para passar em tempo curto. A gente acaba nervosa ou cansada, corta o papo com a cara torta e não se pode nem abrir a porta para o outro sair e muito menos apertar sua mão. E também os preços eram arredondados. Não tinha esta coisa de noventa e nove e noventa. Qualquer coisa que se compre neste dias, tem estes quebrados no meio. Que saco!

Do outro lado, o mesmo personagem já deve estar ligando para outra pessoa tentando vender seu produto.

Se encontrar alguém mais decidido que eu, talvez feche um ‘bom negócio’.