De Apagão em Apagão

De Apagão em Apagão

Jorge Linhaça

Os últimos dias parecem ter sido reservados para apagões diversos:

No domingo, além do já constante "apagão" do time do palmeiras que, embora já tenha chegado a estar 10 pontos à frente do São Paulo, ( tal como o Grêmio, no ano passado) conseguiu ser ultrapassado pelo tricolor do Morumbi, o árbitro Carlos Eugênio Simon parece ter tido um blackout

quando da anulação do gol do Obina.

O resultado é que, somando-se isso a outros erros cometidos, mais as declarações de Rogério Ceni, após ser expulso pelo árbitro dias antes, levantando a hipótese de ser perseguido por ele, resultaram num gancho do nosso provável representante na Copa do Mundo, até o fim do Campeonato Brasileiro deste ano.

Logo depois estoura o escândalo da estudante de turismo que compareceu às aulas da faculdade de turismo " vestida para matar" em um "singelo" micro-vestido cor-de-rosa que, segundo a faculdade ,quando ela subia as escadas deixava à mostra suas partes mais íntimas.

O comportamento da estudante, dirigindo-se a uma instituição de ensino, trajada dessa maneira, pode ser considerado como um apagão do bom senso.

O mesmo pode-se dizer, talvez, sobre a reação raivosa dos demais estudantes em relação a isso.

Creio que deve haver mais coisas envolvidas do que o que já foi divulgado até o momento, a reação intempestiva de grande parte do alunado não me parece que pudesse ser gerada apenas pelo fato da tal garota desfilar pelos corredores com um traje de gosto duvidoso para a ocasião.

Será possível que tenha havido um apagão geral no bom senso dos alunos?

A reação da Universidade, ao expulsar a aluna do curso ( fato depois revertido ) causou mais um apagão, desta vez entre educadores, o MEC e organizações dos direitos da mulher.

A Universidade viu-se acuada sob várias ameaças de diversas organizações e acabou por ser tida como vilã na história.

Educadores escolhidos a dedo pela rede Globo para dar entrevistas,condenaram a atitude da faculdade em expulsar a aluna, alegando que o papel da instituição de ensino é educar e não punir.

Para mim fica a impressão de que, mais uma vez, ficamos todos reféns de uma inversão de valores que, queiramos perceber, ou não, vai minando as relações sociais e tornando a sociedade uma verdadeira terra de ninguém onde cada um pode fazer o que quiser na hora que bem entender.

Não vai ser surpresa nenhuma se a tal estudante começar a aparecer em programas de entrevista desses que vivem à custa de sensacionalismo e, mais adiante possamos conferir os atributos da moçoila em alguma revista masculina.

Aliás, essa ânsia insana por seus "15 minutos" de fama tem levado, cada vez mais, grupos de adolescentes a gravar suas relações sexuais, inclusive em ambiente escolar e depois veicular o vídeo pela internet afora. Não se pensam nas consequências posteriores, apenas no que isso possa gerar de "popularidade imediata".

Arriscaria dizer que, se não estamos vivendo um apagão moral, estamos à beira do mesmo, com a conivência de organizações que, com a desculpa de defender o direito de alguns setores da sociedade,esquecem-se de que existem outros direitos a serem considerados.

Se levantamos a bandeira do direito da aluna de ir à faculdade vestida como bem entender, também é necessário considerar o direito da faculdade e dos próprios alunos de se manifestarem de maneira contrária a isso.

Se defende-se o fato, pela simples condição de ser ela mulher e alega-se uma atitude discriminatória apesar dos problemas causados, amanhã não se poderá condenar nenhum aluno do sexo masculino por comparecer às aulas com qualquer tipo de vestimenta que de alguma maneira revele, em maior ou menor intensidade os atributos físicos equivalentes aos exibidos pela moça.

Não creio que ela seja a primeira estudante a ir a uma universidade com trajes "mínimos", mas, a julgar pela reação dos demais colegas ( já que a Universidade em questão não me parece ser uma instituição confessional ) alguma coisa nas atitudes da aluna extrapolaram a imensa tolerância com que os jovens encaram a questão da vestimenta.

Para completar, entre os dias 10 e 11 a região mais populosa do país ficou às escuras com o problema varando a madrugada.

Coincidência ou não, isso acontece justamente quando se discute se os consumidores tem ou não o direito de receber os bilhões de reais cobrados a mais pelas concessionárias de energia elétrica nos últimos anos.

A tal da ANEEL, que deveria zelar pelos direitos do consumidor, mas que sempre protege as concessionárias com leis que impedem o consumidor até de reclamar das empresas, por certo vai por a culpa em algum fator meteorológico e alegar que para evitar novos acidentes é preciso investir em melhorias do sistema de transmissão de energia e, provavelmente, vão procurar fazer um " acordo" para que esse dinheiro cobrado a mais ao longo dos anos, do meu e do seu bolso, sejam utilizados para essas pretensas melhorias ou coisa que o valha.

Isso equivaleria a o dono do mercadinho perto de casa cobrar a mais em cada soma de nossas compras e depois alegar que como o espaço está pequeno, querer usar o que cobrou a mais para fazer uma ampliação no estabelecimento.

O certo é que, dificilmente veremos esse dinheiro voltar aos nossos bolsos.

De apagão em apagão, sejam eles de que tipo forem, o certo é que vamos caminhando para uma nova idade das trevas onde os antigos feudos chamam-se latifúndios, os nobres atendem pelos apelidos de banqueiros, mega-empresários ou políticos e onde as leis são feitas com tantas brechas que favorecem sempre quem pode pagar o melhor advogado.

A propósito:

O último a sair que apague a luz.

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anjo.loyro@gmail.com

Arandu, 11/11/2009