Berro Novo é Jessier Quirino de novo, novamente...
A primeira vez que ouvi falar de Jessier Quirino foi no programa Manhãs Brasileiras do saudoso radialista e amigo Edécio Lopes. Aliás, não só falar dele como ouvir do próprio um pouco de sua trajetória, de seu trabalho. De um jeito muito peculiar, durante a entrevista, Jessier recitou poemas, contou saborosos causos, antecipando o show que faria à noite.
Fiquei fã de seu trabalho tão especial, pois me lembrou dos programas de rádio das manhãs e tardes sertanejas que ouvia na infância, sempre dedicados ao homem do campo, onde ouvia a música brejeira e as esquetes do “Coroné Ludugero e Otrópe”, a poesia matuta do paraibano Zé da Luz, de Patativa do Assaré e de Catulo da Paixão Cearense.
Encantava-me aquele jeito especial do dizer das coisas mais simples, dos temas tão nossos, os nascidos na roça, nos “arruados”, nas cidadezinhas tão singelas quanto desimportantes, para os muito modernos moradores desta aldeia global.
Ler e ou ouvir Jessier Quirino envolve-me num sentimento de nordestinidade, de pertencimento de um lugar muito especial. Ver e ouvir Jessier num dos seus recitais, recuperando a memória afetiva dos falares, a ingênua curiosidade, o humor maliciosamente, docemente incrustado no viver do matuto é uma experiência única porque reconheço, como se fossemos velhos amigos, cada um de seus personagens.
Não dá para não me emocionar. É meu universo de menina da roça que está lá na sua poesia, na sua prosa tão bem humorada quanto delicada e amorosa com seu povo. Em minha opinião, sua mais poética publicação, seu novo livro - BERRO NOVO - é um deleite. Já na orelha Bráulio Tavares, outro poeta ímpar, arremata: “A poesia matuta, como eu a entendo, é tão variada quanto a poesia urbana. É a mesma orquestra sinfônica, só que com outros instrumentos.”
E assim é. Nas duas últimas Bienais alagoanas do Livro (2007 e 2009) esse poeta plural lançou livro e CDs e, generosamente, brindou com parte de seus recitais seu publico cada vez mais crescente, mais consciente e orgulhoso de suas raízes, de seus sotaques e falares, de sua cultura e seu jeito de ser. Berro Novo – Poesia dita, escrita e musicada, é mais uma publicação da Editora Bagaço que traz de brinde um CD com músicas, causos e declamações. E outro brinde: as participações mais do que especiais de Dominguinhos, Josildo Sá, Maestro Spock (da Orquestra Spock Frevo) e Xangai, artistas também nordestinos da melhor estirpe.
Querendo saber mais do artista vale a pena uma visita no seu endereço eletrônico http://www.jessierquirino.com.br/ para ver os vídeos, as fotos e um “Mini currículo” do qual retiro este fragmento: “(...) Apesar de muitos considerá-lo um humorista, opta pela denominação de poeta, onde procura mostrar o bom humor e a esperteza do matuto sertanejo, sem, no entanto fugir ao lirismo poético e literário.”
Sobre Jessier, disse o poeta e ensaísta Alberto da Cunha Melo: “... talvez prevendo uma profunda transformação no mundo rural, em virtude da força homogeneizadora dos meios de comunicação e das novas tecnologias, Jessier Quirino, desde seu primeiro livro, vem fazendo uma espécie de etnografia poética dos valores, hábitos, utensílios e linguagem do agreste e do sertão nordestinos... Sua obra, não tenho dúvidas, além do valor estético cada dia mais comprovado, vai futuramente servir como documento e testemunho de um mundo já então engolido pela voragem tecnológica."
Ouso dizer que a poesia e a prosa de Jessier Quirino é, atualmente, nossa “Bandeira Nordestina” (título de um dos seus livros). Mas bandeira de quem se orgulha, de quem não nega suas origens e berra aos quatro ventos o valor da alma poética e guerreira de um povo que, mesmo vítima da ignorância e do preconceito, não se rende.
Da Série “Sobre Pessoas” inspirada na publicação do escritor também nordestino Antônio Torres.