A Conferência do Clima, o desmatamento da Amazônia e a poesia
Cissa de Oliveira
Eu nem bem tinha lido o título da manchete, e me chamou a atenção a fotografia do Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente, e de Dilma Roussef, ministra-chefe da Casa Civil. Embora a seriedade do olhar contradiga um pouco, a calvície do ministro tem bastante poesia, mais do que o charme do colete ou até mesmo as feições de menina da ministra. Pensam que eu vou discutir botox? Enganam-se! A inspetora da escola aqui ao lado, usa. A colega de academia, usa. A moça do caixa na casa lotérica também usa. O colega da pós graduação, eu sei, usou. Mas a lista é mesmo infinda e então se a ministra usou fez muito bem, que o diga o resultado.
Então se eu não vou falar de botox – e até falei -, talvez eu queira falar da poesia da calvície do ministro? Não, também! Nem do colete, cujos tons combinam com os olhos dele Eu quero falar é de aquecimento global, gente, mais especificamente da meta definida pelo governo para a redução da emissão de poluentes, pelo país, em 38,9%, até o ano de 2020. Esse é o objetivo estipulado, e para tanto deverá reduzir em 80% o desmatamento da Amazônia, e em 40% o do cerrado, além de outras medidas que envolvem as áreas da agricultura, da energia, da siderurgia e mais a iniciativa privada.
Eu fiquei surpresa ao saber que de acordo com a Convenção do Clima da ONU, os países em desenvolvimento não precisariam se comprometer com metas para a redução da emissão de poluentes. E me alegrou saber que o Brasil se comprometeu neste sentido, mesmo não sendo obrigado. Por outro lado, independente do que o mundo espera do nosso país, já se passou a hora de tomar atitudes concretas voltadas para a proteção da Amazônia, tanto porque a mesma é foco de atenção de todo o planeta, quanto porque se trata de um tesouro de biodiversidade. Depois, por mais que institucionalizem, a Amazônia é nossa! Não tomar atitudes mais concretas para protegê-la, já, seria burrice no mínimo em termos políticos. O Brasil não é um país isolado, e se o andar da carruagem o impele a atitudes corretas mesmo quando não é oficialmente obrigado, certamente isto gera influência positiva sobre outros países na mesma situação, e até sobre aqueles que têm a obrigação que adotar medidas de prevenção e proteção ao Meio Ambiente.
A preocupação em tornar factíveis as ações que culminarão com o sucesso do objetivo, esta sim, é que determinará se toda essa proposta brasileira a ser apresentada na Conferência do Clima, em Copenhague, ainda poderá ser comemorada, não apenas porque se configuraria como sucesso em termos políticos - o que geralmente é comemorado antecipadamente, porque a proposta, afinal, já é uma espécie de bônus -, mas principalmente pelo retorno ao Meio Ambiente, traduzido em mais saúde, bem-estar e futuro para o planeta. O fôlego deve ser grande, eu sei, assim como o parágrafo que aqui se fez, porque a situação assim o exige.
Se alguém disser que eu injetei botox na crônica não estará de todo errado, mas que o Brasil tem potência e potencialidades pra atingir as metas estipuladas, tem, e muito. O Brasil pode, sim, e isso não é poesia.