Os Bem-te-vis (Um Ritual de Amor)
Acordo todos os dias, (acho que já disse isso...) com uma sinfonia de centenas de pássaros em minha janela. Dentre as muitas vozes canoras, identifiquei um coro de corruíras que inicia a sua apresentação às 5.30 da manhã pontualmente; por volta de 5.45 hs aparece o José Carlos, um Bem-te-vi assanhadíssimo e exibido que chama desesperadamente a companheira, a quem dei o nome de Maria Rita. Empoleirado em uma árvore próxima o menestrel de penas inicia a sua cantilena monocórdica: - Te vi, Te vi, Te vi. (Descobri que o "Bem" é coisa reservada pelo malandro só pra dizer bem baixinho na orelhinha da Maria Rita!) A coisa é tão certinha que eu estou seriamente decidido a abolir o despertador do meu celular (tempos modernosos, estes!!!!) e alugar o canto do José Carlos, o Bem-te-vi pontualíssimo, já que de quando em vez eu esqueço de programar o trem modernoso para me despertar. Com o José Carlos não tem erro. Faltando 15 minutos para 6.00 horas da manhã já soa na minha orelha aquele "Te vi" "Te vi", como se o danado estivesse me espiando encolhido debaixo de um reconfortante cobertor, com uma enorme má-vontade de começar a azáfama diária. Depois que o José Carlos me tira da cama, com muitos "te vis" disparados, a Maria Rita (deve ser a mulher do José Carlos) dá o ar de sua graça respondendo ao chamado do assanhado; "Bem-te-vi", Bem-te-vi", e essa troca de Te vis e Bem te vis, dura cronometradamente 15 minutos, quando o casal resolve as suas pendengas e parte para a construção do ninho que será a morada deles. Espero que essa obra (a do ninho dos dois Bem-te-vis) dure bastante tempo, para que eles não me privem da delícia que é acordar e acompanhar um namoro tão bonito.
Quis compartilhar com os meus amigos e amigas a história do José Carlos e da Maria Rita, amigos alados que apareceram por aqui faz uns 40 dias...
Vale do Paraíba, Março de 2007
João Bosco