CRIANÇAS, AS CAMPEÃS DE LEITURA

Saiu na Isto É: "Nas avaliações sobre Língua Portuguesa, os estudantes brasileiros têm desempenho ruim em redação e compreensão do texto, consequência dos baixos índices de leitura no País".

Um levantamento inédito feito pelo Observatório do Livro e da Leitura (OLL) mostra que a nova geração pode mudar esse quadro: segundo a pesquisa, as crianças são os que mais lêem no Brasil. Os dados trazem uma mensagem aos editores, professores e gestores de políticas públicas: ler, para a criança, é fundamental para a formação de uma sociedade afeita às letras. A pesquisa conclui que dois em cada três leitores se recordam dos pais ou adultos envolvidos com livros em casa. Quem não tem essa lembrança da infância, não desenvolveu o hábito.

Esta notícia, a mim como profissional da educação, me alegra e me enche de esperança. A criança aprende e cria hábitos que vê nos adultos, principalmente no meio familiar. Como sua tendência até os 7 anos é imitar o que vê nos adultos, é óbvio que vendo pais, irmãos lendo, desperta sua vontade de fazer o mesmo. Uma casa onde os livros circulam e são manuseados é o maior incentivo de leitura para a criança.

Foi o que aconteceu comigo. Com 4 ou 5 anos eu via meu avô paterno, quase semi-analfabeto, lendo o Correio do Povo diariamente. Eu ainda não conhecia as letras, mas comecei a manusear os jornais, a recortar as figuras. Para desespero da minha avó, que não lia, mas guardava todos os exemplares e me via a "mutilar" os jornais. Lembro que esperava ela fazer a "sesta", comum aos antigos e, pé por pé, "roubava" dois ou três jornais, tirava as folhas que me interessavam e "devolvia" o que sobrava. Meu pai sempre leu, lia de tudo, desde o Antigo Testamento até livros dos mais variados. Aos 6 anos, precoce para a época, ele me alfabetizou em casa e quando cheguei à escola já lia corretamente. Aí ninguém mais me segurou... Nessas alturas já não me contentava em pegar os jornais guardados pela avó e devolver (tudo escondido). Não. Agora eu já conhecia as letras e precisava do jornal inteiro. Passei a "surrupiar" os exemplares e não recolocar de volta na prateleira. Aí o bicho pegou fogo! Porque a "pilha" só diminuia a cada dia... minha avó reclamava, meu avô ria e meu pai dava a maior força. Começamos a ler juntos, ele me explicava o que minha pouca idade não entendia e assim fomos criando em mim esse hábito delicioso e imprescindível para minha formação. Ao meu pai e ao meu avô devo o gosto pela leitura e hoje sou agradecida por todo o conhecimento que tenho, pela intimidade com os livros e por ter elementos para discutir todo e qualquer assunto.

Isso é cultura. Cultura não se adquire só na escola. A escola fornece oportunidades, incentiva e dá continuidade ao que o aluno traz de casa. Porque é na base familiar que, a exemplo de uma construção, se formam os hábitos. E uma vez formados, perduram por toda a vida. Assim aconteceu também com minha irmã e hoje, nós duas, somos responsáveis e estamos transmitindo aos meus sobrinhos esse gosto e hábito saudáveis e importantes para o crescimento intelectual, moral e formacional.

O amor pela leitura inicia na infância. Começa com o gosto em olhar as figuras, os pais lendo estorinhas. A criança aprendendo a ler e ganhando os primeiros livrinhos. Na adolescência sendo presenteado e na juventude ele mesmo escolhendo. Aí teremos um adulto leitor para o resto da vida. E, por toda a vida, um amante dos bons livros.

Concluo com uma frase de C.Torres Pastorino: "O livro é uma amigo discreto, que não se impõe a ninguém, e só fala conosco quando temos vontade de conversar conosco".

Giustina
Enviado por Giustina em 14/11/2009
Reeditado em 14/02/2014
Código do texto: T1922460
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