A CAMA: COMEÇO, MEIO E FIM


De acordo com alguns dicionaristas, o vocábulo cama serve para designar qualquer lugar onde pessoas ou animais possam deitar-se e/ou dormir, mas de acordo com a escritora norte-americana Evany Thomas, autora de “The Secret Language of Sleep”, “a cama é o canto em que nossas motivações secretas, desejos e vontades tomam conta de nosso subconsciente”. 

A cama, na condição de móvel em que se dorme ou se repousa, composto de estrado com pés ou sem eles, sobre o qual se coloca, em geral, um colchão revestido de cobertas, varia de forma segundo a época, estilo ou lugar onde ela foi feita e, geralmente, a sua importância é determinada conforme as posses do seu detentor. 

A vida de um ser humano e de muitos animais, por natureza, tem início numa cama. Isso é quase unanimidade. Em geral, é sobre uma cama que a vida tem seu início e é também sobre uma cama que ela desaparece.
 
A cama é o ponto inicial, crucial e final de um acasalamento normal. As outras formas de acasalamento que têm sido testadas pelo homem moderno podem até denotar alguma forma de romantismo, mas nenhuma delas suplanta nem substitui o frenesi/emoção do cavalgar que um casal apaixonado pode experimentar nas estradas e tangentes dos caminhos que o conduz ao paraíso amoroso, senão aquelas proporcionadas pelo aconchego de uma cama, mesmo que ela seja apenas um aposento rústico. 

Alguns animais irracionais, por vezes, constroem suas camas de forma parecida com a dos humanos, tentando com isso atrair os seus pares. Acredita-se que nessa questão de relacionamento afetivo, os humanos, mesmo com todo o seu conhecimento racional de mundo, ainda têm muito a aprender com os animais irracionais. 

Os grandes momentos de um homem e de uma mulher são decididos quase sempre em cima de uma cama. A cama nos acolhe, nos recolhe, nos dá alento, aposento e é sempre um abrigo amigo. Ela é parte integrante da vida, assim como a própria vida é em si mesma. 

No dia-a-dia de uma vida a dois é na cama onde geralmente os casais esquecem as diferenças. Ali, sobre ela, as rusgas, as brigas mais rotineiras e corriqueiras de um casal têm seu início e às vezes, seu fim, e de forma meio mágica, novas juras de amor são feitas e também desfeitas, lágrimas são derramadas e enxugadas, frases são proferidas e reprimidas sob o fervor de extremada emoção, noites de sono são perdidas e/ou recuperadas e muitos sonhos são refeitos e/ou desfeitos. 

Na maioria das vezes a cama pode ser considerada um meio de descanso, de deleite e de aconchego natural. Ela tende a ser a extintora de todo o cansaço após um dia de muito trabalho e também a acolhedora natural daquele cansaço proporcionado pelas aventuras de uma noite vivida sob a intensa loucura de muitos beijos e abraços, e porque não dizer, de grandes amassos. Nestes casos em particular, o que menos interessa é a qualidade do material do que ela é feita, ou seja, pouco importa a sua textura. Ela pode ser de marfim, de madeira, de ferro, de alvenaria e até de capim. 

Os apaixonados por motéis dos anos 60 já sabiam: cama redonda era a coisa ideal para incrementar o romance amoroso vivido naquele momento. Nos dias atuais, tanto faz. Ela pode ser redonda, quadrada, ovalada ou triangular. Isso pouco importa. Todos querem apenas uma cama... 

Algumas instabilidades emocionais positivas e/ou negativas costumam deixar algumas pessoas de cama. Noutras situações tais instabilidades emocionais, sejam elas positivas ou negativas, também poderão levar muitas pessoas para a cama.
 
De um modo geral, a cama sempre nos acolheu de uma forma muito gostosa, e se for uma cama de casal, ainda melhor! Até uma criança pequena, com toda sua pureza e ingenuidade, já sabe como disputar o seu espaço na “cama grande” da família e, reiteradas vezes, lá do interior do seu quarto ela solta o seu berro reivindicador: 

- Manhê, eu posso dormir na sua cama hoje? 

Como vemos, a cama faz parte da nossa vida e algumas coisas boas nós podemos experimentar estando sobre ela. 

Quem nunca almoçou ou jantou em cima de uma cama? 

Quem nunca ficou sentado (a) numa cama comendo pipoca, bebendo refrigerante, jogando conversas fora, relembrando velhos tempos, revivendo velhas lembranças, etc. 

Se observarmos bem, até a natureza conspira a favor da cama. Quando uma chuva é anunciada a primeira atitude que nos vem à mente é o aconchego de uma cama e nela adormecemos até essa chuva ir embora. 

No nosso cotidiano é muito comum algumas pessoas “baterem a cama nas costas” depois de ter ingerido uma boa dose de comida, ou ficarem “de cama” com a falta reiterada dela. 

As fêmeas geralmente gostam de “fazer a cama” para receberem de forma aconchegante os seus machos. Já os machos, excepcionalmente os humanos, por vezes gostam de “fazer a cama de” outros seres da mesma espécie para assim tirarem algum proveito ardil, criando em certos momentos uma verdadeira “cama-de-gato”. 

A cama é o tipo de móvel indispensável a todo ser humano e, na maioria das vezes, quando estamos enfermos, quando estamos com bastante sono e até quando chegamos à morte, é ela quem primeiro nos acolhe. 

Até o caixão de madeira, que nos recolhe após a morte, tem a maior vontade de ser parecido com ela e o desejo dele é tão grande que ele faz questão de se apresentar com um formato semelhante ao dela quando do acolhimento solene do “de cujus” e, sem nenhuma parcimônia, se compromete, a partir daquele momento, a substituí-la para sempre.
 
Eu confesso que elaborei parte deste texto em cima de uma cama e recomendo, sempre que lhe for possível, repousar um pouco e, em estando deitado(a), procure refletir acerca do valor íntimo que uma cama possui, tendo, assim, a consciência de que ela é a fiel companheira de todas as horas de todos os seres humanos e que apenas e tão-somente sobre ela as fases de uma vida têm começo, meio e fim!
Germano Correia da Silva
Enviado por Germano Correia da Silva em 11/07/2006
Reeditado em 13/02/2010
Código do texto: T192167
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