Um momento para sempre
- Então... É o fim?
- Sim, e, por favor... Não me procure mais.
Ângela saiu do quarto do motel. Bruno ouviu o barulho de uma porta que batia como se fosse um eco vindo do coração. A angustia que sentia causava um forte mal estar. Sentiu a garganta secar. Não havia mais... Ângela.
Foram dois anos de uma louca paixão. O primeiro encontro aconteceu num cruzamento no Centro da cidade Maravilhosa, alí na Avenida Rio Branco. Foi numa segunda-feira, por volta das nove horas. Um esbarrão. A bolsa de Ângela caiu. Bruno, ainda que apressado, parou e se curvou como sinal de reparação. Curvaram os corpos juntos. Os olhares se encontraram.
- Desculpe - Foi a primeira palavra de Bruno olhando o rosto moreno de Ângela, com a certeza de que “jamais o esqueceria”.
- Tudo bem - Foi a resposta. Ângela mostrou-se sem jeito e ficaram alí, parados por um breve tempo.
- Posso fazer alguma coisa pra ajudar? - perguntou Bruno, notando pela primeira vez a aliança num dos dedos da mão esquerda de Ângela. “Não” respondeu. Cada um seguiu seu caminho. Até que numa sexta, num daqueles barzinhos da Cinelandia, o reencontro. Um aceno de mão seguido de um primeiro diálogo e uma discreta troca de telefones. A partir daí conversas foram constantes e a intimidade foi se desenvolvendo. Descobriu que ela era casada, e que vivia uma crise, apesar do marido ser “o homem da sua vida”.
Até que... Envolveram-se num louco e excitante caso de amor. Foram dois anos de carinho, sexo, poesia e identificação. A não ser pelo detalhe do ar triste que notava em Angela constantemente.
Num determinado encontro perguntou "Por que o rostinho tão triste em cada ocasião de despedida?" Angela respondeu com frieza: "Amo meu marido. Ele é o melhor homem do mundo".
Bruno engoliu um seco.
O tempo passou e... “Acabou”.
Saiu entorpecido pelas lembranças. Era como se ouvisse vozes. Sentia vento e o passar da paisagem. Não queria mais viver. Virou bruscamente o volante e acordou... numa sala com pessoas vestidas de branco. Uma figura alta foi se descortinando. Era um homem, algo em torno de cinqüenta anos. Cabelos grisalhos:
-Como se sente?
-Não sei...
-Você passou por momentos difíceis.
-O que houve?
-Um acidente. Mas o importante é que agora está tudo bem.
Durante a recuperação no hospital, soube que o fato de estar vivo era considerado um milagre. O corpo sentia cada osso quebrado e havia perdido 30 por cento do sangue e pelo menos um ponto convergia para a família e para a equipe médica: o reconhecimento do empenho do tal médico, Doutor Samuel como fundamental para a recuperação de Bruno.
Com o passar do tempo, a alta médica chegou. Na despedida muitos agradecimentos e um aperto de mão especial no médico que “o salvou”.
Um ano depois, quase que totalmente recuperado, Bruno decidiu visitar o hospital e agradecer a equipe médica. Falou com enfermeiros e atendentes. Perguntou por Doutor Samuel. Foi informado que havia recebido a visita da esposa, mas que já desceria para revê-lo.
Em meio a tantas conversas, ouviu uma voz familiar. Voltou o olhar para o fim do corredor viu quando duas sombras surgiram. De um lado Samuel, do outro...
-Como vai Bruno? Que bom te ver assim.
Bruno respondeu com um sorriso, mas a voz não saiu.
-Deixe-me apresentar a mãe dos meus filhos e a pessoa mais importante da minha vida: Minha esposa Ângela.
A boca ficou seca. O coração disparou. Do outro lado, Ângela estendeu a mão sem esboçar reação. A mesma mão da aliança. Um momento de silencio até que ouviu:
- Muito prazer!