DONA ROSA

Era uma criança em meio a tantas outras...

Família formada no meio rural, um filho atrás de outro. Vez por outra o pai chegava a registrar duas crianças ao mesmo tempo.

Era difícil ir até à cidade em busca do Cartório.

Sabem como é, todo dia, desde a madrugada, as tarefas não podiam ser adiadas ou passadas para outra pessoa fazer. Tirar leite das vacas, zelar pelos bezerros, cavalos e potrinhos. E a ração dos porcos, cabritos, patos e galinhas? E o roçado? E o conserto da porteira? A goteira do telhado? Tanta coisa!

Quando lembrava, não podia sair. Nos pouquíssimos momentos de relativa folga, não lembrava e quando caía a noite, dormia... E sempre era noite ainda quando se levantava.

Foi nessa família que aquela menininha nasceu.

Seu nome foi escolhido - ROSA - e com ele foi levada à pia batismal da capela. Rosa, Rosinha, pra lá e pra cá.

Cresceu. Chegou a época de ir para a escola.

Qual não foi seu espanto quando tomou conhecimento pela Certidão de Nascimento, que seu nome e a data do aniversário estavam trocados! Para todos os efeitos seu nome de cidadã era Pedrina e a data do nascimento era outra. Ficou chocadíssima! Como poderia ser isso?

Seu pai explicou:

Na época de seu nascimento, tinha morrido uma outra criança, que ainda nem tinha sido registrada no Cartório. Quando teve condição de ir à cidade para o devido registro, no Cartório trocaram as anotações. A mortinha recebeu o nome de Rosa, nascida na data do nascimento da Rosa e a vivinha recebeu o nome da mortinha com a data do aniversário da Pedrina.

A vida continuou e seu nome continuou também a ser Rosa.

No dia do seu casamento, quando o padre lhe perguntou: - Senhorita Pedrina, é de sua livre e espontânea vontade casar-se com o Sr. Sebastião -, o padrinho da Rosa, irmão de sua mãe, pediu licença ao padre e perguntou em alto e bom som:

- Desculpe, “seu” padre, o Sr. pare esse casamento, porque eu sou padrinho da minha sobrinha Rosa e não dessa uma aí que o Sr. falou.

Enquanto o murmúrio correu solto por toda a igreja, o pai dela se chegou ao pé do ouvido do cunhado e lhe explicou rapidamente a tal história da mortinha e da vivinha.

No começo ele ficou meio confuso, porém, afinal ele entendeu e virando-se para o padre espantado e paralisado com a interrupção, mandou-o continuar a cerimônia.

- Tudo bem, “seu” Padre, pode casar essa uma que o Sr. falou.

Coitado, pois nem ele sabia da tal história!

Até hoje Dona Rosa lamenta o fato e quando alguém lhe pergunta:

- Como a senhora se chama?

- Ah! minha filha, é uma longa história.........

Ela não se conforma de chamar-se Pedrina!...

Rachel dos Santos Dias
Enviado por Rachel dos Santos Dias em 13/11/2009
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