"...Compaixão
O menino de rua sentado todo sujo na calçada. O deficiente com dificuldades visíveis aos olhos de todos, ou não. Aquele ser humano com cheiro desagradável que passa por você. O bêbado que balbucia palavras sem sentido, cambaleando pelos cantos. A senhora desorientada que se esforçando para ainda participar da sociedade, acaba provocando certa lentidão em qualquer atitude cotidiana que envolva muitas pessoas. Os pedintes, que vestem a sua miséria como ganha pão. Os milhões que carecem de comida, abrigo, segurança, afago. As vítimas de desastres, acidentes, golpes. Tudo que é capaz de nos fazer sentir: pena, dó, repúdio, medo, indiferença; todos que são capazes de nos fazer sentir o nada. E por que é assim?
A mulher que muda de calçada ao ver um menino de rua. O grupo de jovens que olha com repulsa a criança com deficiências motoras. A cara de nojo que o executivo bem vestido faz, quando ao seu lado o odor vindo de um homem lhe estraga as narinas. O comentário do pai de família ao ver um bêbado nas ruas. A irritação das pessoas pela lentidão da idosa. A apatia do rapaz ao ser abordado por um pedinte. A distância que se sente entre os necessitados, e aqueles que nada precisam.
A vergonha do menino sujo, sentado na calçada e cansado de viver. A angústia que consome a menina por não ser que nem todo mundo. O desamparo que veste o homem, causando-lhe alienação tão grande, ao ponto de nem notar ou se preocupar com o próprio cheiro. Os motivos e tristezas da vida, que levam o homem a abrir mão da própria consciência. A persistência da idosa em se manter viva, ativa, e a dor que lhe consome o peito por não ser respeitada. A humilhação que reveste as mãos dos que pedem. A solidão, desesperança, desespero e sofrimento que assolam todos aqueles que não enxergam melhora para a própria condição. Tudo o que somos capazes de fazer com que sintam: vergonha, tristeza, solidão, dor, desamparo.
Muito mais que sujos, fétidos, bêbados, deficientes, velhos, mendigos, desabrigados, são seres humanos. Com coração, cérebro, rins, estômago. Com sonhos, vontades, amor e dor. Muito mais do que um banho, comida, dinheiro, glicose na veia, eles precisam de olhares que os enxerguem. Muito mais do que pena, dó, repúdio, medo, indiferença, essas pessoas precisam de compaixão.
É colocar-se no lugar do outro, é despir-se de preconceitos e julgamentos; é ajudar, sem antes qualificar se a ajuda é ou não merecida. Compaixão não se compra, não se fabrica e nem se adquire pelas metades. Ela não torna seus alvos inferiores, e nem seus fornecedores melhores do que já eram.
O que muda é a percepção. São as sementes que você planta na vida, é o modo como alguém vai se sentir lá dentro, no mais profundo do seu ser. Compaixão é enxergar que todos somos, no mínimo semelhantes e no máximo, iguais.
E como diria Arthur Schopenhauer, “O destino é cruel e os homens precisam de compaixão”, ou ainda Joseph Joubert, “Só pela compaixão se pode ser bom”. Na minha simples opinião, ter compaixão é se fazer digno dela,é reconhecer que cada uma dessas pessoas, não são mais e nem menos que você, reles mortal. Afinal, vamos todos para o mesmo buraco. Feder juntos. Uma salva de palmas para a nossa condição!!!