Minha neta rampira
(O nome dela é Amanda, quatro anos de idade, feitos no último 16 de fevereiro.)
Amanda é introvertida, tímida na maioria das vezes, quando está entre muitas pessoas. Mas quando se familiariza, vira a própria portuguesinha encapetada, como boa descendente que é, por parte do pai.
Dia desses, em frente à tevê, concentradíssima, não percebeu que a mãe falava com ela, e quando esta a sacudiu, retrucou impaciente:
— Pára, que eu tô vendo o Zeca!
— Zeca? Que Zeca?
— O rampiro.
— Não é rampiro, Amanda. É Vampiro.
— Então... Rampiro!
Sem olhar para a mãe, indaga:
— Mãe, vai demorar muito para eu ficar grande?
— De que tamanho?
— Assim... Do tamanho do Zeca.
— Demora um pouco sim... Por quê?
— Porque eu vou casar com ele.
— Mas ele tem namorada, filha.
— Ah! Eu tenho testeza que ele vai casar comigo quando me ver.
— Ele não é vampiro?
— É um rampiro bonzinho. Eu também posso ser uma rampira boazinha. Não vou morder você.
— Por que você não namora o fulano de tal, lá da sua escola?
— Ele é pequeno e não tem os olhos do Zeca!
— ?
O pai, observando o colóquio e já quase pisando na beiça, que aumentava a cada declaração da princesinha, interveio com ar zangado:
— Isso é conversa pra esta menina? Ela tem é que brincar com as bonecas. Tem só quatro anos! E você ainda fica dando trela pra essas asneiras!
— Ué... Minha filha tem que saber que sou amiga dela e que ela pode conversar comigo sobre qualquer coisa!
— Mãe? Quando eu ficar grande e casar com o Zeca, podemos morar aqui?
— ?
— Escreve uma carta minha pra ele?
Papel e lápis na mão, a mãe espera o ditado da filha:
Meu querido
Blábláblá...
Solícita, a genitora sugere:
— "Aproveitando... Meu aniversário é Domingo...".
— Eu já vou estar grande até lá?
— Ainda não...
— Ah! Então, não!
E foi dormir, com a bênção de um pai carrancudo. Sonhar, talvez, doces sonhos rampíricos, do alto dos seus quatro anos.
-(Março de 2003)-
Asta Vonzodas