Em que lugar escondemos os nossos preconceitos?
Hoje eu me levantei pensando no tema de uma aula que assisti no mês de setembro desse ano. Não sei precisar direito o porque dessa recordação, sei simplesmente que me deu vontade de escrever sobre esse assunto.
Lembro-me que o professor perguntou a todos os alunos se eles tinham algum preconceito. A maioria dos alunos de imediato não quiseram se comprometer. É engraçado como nós seres humanos somos hipócritas! Não gostamos de admitir que temos alguma perversidade escondida na alma.
O diálogo fluiu e todos descobriram que tinham algum tipo de preconceito. Escondidinho, mas tinham.
Em que lugar escondemos os nossos preconceitos? Nem nós mesmos sabemos. Em uma circunstância qualquer eles (os preconceitos) surgem massacrantes e impiedosos. Não surgiram do nada. Sempre estiveram lá, escondidos, esperando a hora de se revelarem.
Dei minha mão a palmatória. Tenho os meus preconceitos e fico triste comigo mesma. Sou humana, porém não queria ser assim tão imperfeita. Possuir essa reserva, esse sinal de stop, essa rejeição incompreensível a um ser humano que é igual a mim. Que importa se não tomou banho e suas roupas são rasgadas? Se pensar bem, com certeza ele está naquelas condições não por opção própria. Se não fosse um abandonado pela sociedade, um excluído de sua cidadania, estaria limpo e com roupas melhores. Por que então um sinalzinho de medo povoa o meu coração? Medo de ser assaltada, ser agredida por aquela pessoa? As aparências enganam. Muitas vezes uma pessoa de boa aparência pode guardar em seu bojo um caráter criminoso e cruel, enquanto um sujo e maltrapilho um caráter pacífico (só não teve sorte na vida). Entretanto a gente tem medo é do que nos parece “inadequado” para a sociedade e abrimos nossas defesas para o considerado “adequado”. Puro preconceito. Preconceito de aparência. De condição social.
Vejam o caso dessa menina expulsa e não expulsa da universidade. Logicamente que eu não teria coragem de fazer o que aqueles alunos fizeram (partir para a agressão e xingamentos), mas tenho convicção que a trataria com reservas. Por causa de suas roupas eu já a classificaria como “inadequada” para conviver socialmente comigo. A nossa moral hipócrita faz isso. Quem nos garante que essa menina é mais “sem moral” do que uma outra que vista roupas aceitas pela sociedade? Quer exemplo melhor do que os índios? Vivem nus ou com poucas roupas. Existem seres humanos mais puros moralmente do que eles? Compreendo que não vivemos em uma tribo indígena. Vivemos em um mundo de aparências. De exteriorização. Se você seguir as regras, as normas impostas, você é aceito. O importante é você “aparentar” ou “mostrar” que é “adequado”. Agora, se por debaixo do pano você cometer as piores das perversões e a sociedade desconhecer esse fato, não se preocupe: Você continuará “sinônimo de perfeição”.
Vivemos em sua sociedade onde a “casca” supera o caráter. Embalagens lindas escondem os mais fétidos esgotos, porém são aclamadas e aceitas pela “beleza aparente”. Temos que manter as nossas “máscaras” e os nossos “disfarces”. Quem realmente se mostra como verdadeiramente é? Covardia? Não! Vejam o que aconteceu com aquela menina! Massacrada! Se a nossa verdade não couber dentro da sociedade, não somos aceitos e somos banidos do convívio social. Por isso, aparência, deficiência, condição social, roupas e opção sexual, incomodam tanto. Desculpem-me não é opção sexual. Um professor me disse uma vez que nenhuma pessoa pede para ter atração por outra do mesmo sexo. Não há a opção. A pessoa nasce e pronto. E aí? Você vai matar essa pessoa? Vai maltratar e discriminar? Mais ainda, você vai impedir que ela seja feliz? Simplesmente porque ela foge dos padrões estabelecidos pela sociedade? Pela religião, pela igreja, sei lá!
Nesse mundo onde os preconceitos flutuam livremente “mascarados” com sinal de alerta 24 horas ligado para os “inadequados”, quem é que quer ser diferente, fugir do padrão?
Se fossemos pensar com profundidade, deveríamos entender que precisamos urgentemente rever os nossos conceitos e superar os nossos preconceitos. Para se superar um preconceito é preciso primeiramente que tenhamos consciência da sua existência. Daí em diante é nos mantermos bravamente atentos para não deixarmos que ele influencie os nossos atos e as nossas ações. Sei que é difícil. Falo pela minha pessoa. Tenho que me policiar, puxar as minhas orelhas (na imaginação, é claro!) constantemente. Quando o preconceito vem, eu de imediato brigo com ele. O caso dessa menina da universidade me fez refletir bastante. Logo de primeira ia concordando com o absurdo da situação. Depois, travei luta com o preconceito e concluí que a hipocrisia não merece de jeito nenhum ser aplaudida.
Terminando esse texto, parece que percebo a razão de tê-lo escrito. Eu desejo que pelo menos uma pessoa, faça como eu: Resolva admitir seus preconceitos e reavaliar os seus conceitos. Por que não respeitamos as diferenças? Elas podem até chegar a nós como um terrível soco no estômago, contudo, a dor passa e fica a certeza de que precisávamos daquela dor para ser seres humanos melhores. O que não pode é sentenciarmos a dor perpétua (nem nos piores crimes a lei brasileira permite a palavra perpétua!) às pessoas que consideramos “inadequadas” na sociedade. É desumano segregar, humilhar e massacrar as diferenças!
Esse é um apelo que faço! Pensem e reflitam seriamente, por favor!