CARTA PARA UMA GALERA
Não sei o que seria da minha angústia com esta modernidade se não fosse um certo saudosismo.(Eu)
“Não hei de trocar datas à minha vida só para agradar às pessoas que não amam histórias velhas.”
(Machado de Assis, Dom Casmurro)
Rita Lee falava em 1978 sobre as perspectivas da Miss Brasil do século XXI, questionando: “será que ela vai continuar uma tradição? Será que ela quer modificar uma geração?”
Todo mundo preocupado por ai em resolver os problemas imediatos, a pressão no trabalho, ou a falta de trabalho para sentir pressão, os amores desfeitos, os filhos na escola, crescendo, a prestação, o cartão de crédito, a empresa no vermelho, a beleza fugaz mas inseparável, o que fazer para garantir o presente e eu aqui pensando no futuro.
Estava viajando na velhice da geração atual. Será que vai haver um conservadorismo ou um saudosismo quando, daqui a trinta quarenta anos, estiverem convivendo com uma modernidade mais modernosa do que esta? Com carros movidos a nitrogênio, com telepatia feita por chip inserido no cérebro, uma comida frugal feita em pílulas, com uma governança mundial única sendo disputada por guerra de mísseis, ou o fim das rugas na pele? Será que vão se preocupar com o tipo de balada que seus filhos e netos freqüentam, bebendo não mais da mesma bebida de hoje, falando um idioma universal e namorando sem mais neuras de sentimentalismos piegas?
Será que vão dizer: - no meu tempo não era assim? No meu tempo era melhor? Será que vão cantar “Como Nossos Pais”?
Quero falar de nostalgia para me sentir mais vivo e entender melhor o que se passa no presente. Não deixo minha existência cair no vazio das alegrias efêmeras para não ter que zombar depois de quem construiu história que me causará inquietação invejosa.