Drummond 
                    e seu amor secreto




     1. Lygia que amou Drummond. E Drummond que amou Lygia... Uma bonita história de amor envolvendo um grande poeta e uma bela bibliotecária.
     
2. Drummond tinha quarenta e nove anos e Lygia vinte e quatro quando, colegas de trabalho, no Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, se conheceram. E se apaixonaram perdidamente um pelo o outro...
     
3. Carlos, casado com Dolores Dutra de Morais, não resistiu aos encantos de Lygia Fernandes, bela e culta, e a amou, secretamente, até morrer, em 17 de agosto de 1987. E foi plenamente correspondido.
     
4. Em carta a um amigo comum, quarenta dias depois da morte do seu amante ilustre, Lygia escreveu: "Faleceu finalmente na noite de 17 de agosto, segurando a minha mão e enquanto eu falava com ele, entreabriu levemente o olhinho direito como querendo se expressar, mas estava tão sedado e fraco que isso era impossível."
     
5. E em outro trecho da mesma carta: "Não me conformo, melhor dizendo, nem acredito que ele se foi para sempre. Converso com ele e ele comigo. De noite, então, é a hora pior. Era quando ficávamos mais tempo no telefone. Não consigo dormir, esperando que ele me ligue, embora morra de sono e saiba que isso não vai acontecer." 
    
6. Tamanha pela paixão que os envolvia, ainda na mesma missiva, Lygia, dias após o falecimento do seu grande amor, confessa:  "Não sei como venho aguentando até aqui.  Não há meio de acreditar que meu poeta (sim, meu poeta!), amado por mim durante 36 anos, tenha partido para sempre. Não volta nunca mais."
     
7. Correu o mundo a história de que Drummond, inconformado com a morte de Maria Julieta Drummond de Andrade, sua filha dileta, teria pedido ao seu médico para morrer. 
    
8. Circulou uma notícia, segundo a qual, a dor pelo desaparecimento da filha querida o teria matado. Sua morte, de fato, deu-se pouco tempo depois do falecimento de Julieta.
    
9. Esta versão - que acreditei verdadeira durante muito tempo - foi literalmente desmentida por Lygia, também na citada carta. 
- "Ele não morreu de amor, como todo mundo fica apregoando por aí. Nem tampouco praticou a eutanásia como alguns miseráveis afirmaram com uma veemência assustadora. O Carlos foi assistido clinicamente e sempre tomou os remédios prescritos. Nós todos que vivemos intimamente com ele sabemos disso. Só não quis, como nenhum de nós queria, fazer ponte de safena, pois um homem daquela idade... não tinha sentido."
     
10. Quem melhor do que sua namorada - assim ele a chamava, carinhosamente - podia oferecer uma versão correta sobre o verdadeiro motivo da morte do querido vate de Itabira? 
     
11. Estou lendo na revista Veja desta semana que um novo livro de poesia do Carlos Drummond de Andrade deve ser lançado, com poemas inéditos. O original desse livro, que é de 1924, intitulado "Os 25 Poemas da Triste Alegria" ( que título, hein?), esteve desaparecido durante anos, informa a revista.  Até ser encontrado pelo acadêmico Antônio Carlos Secchin, professor da Universidade do Rio de Janeiro. E que, completa a Veja, "com o aval da família pretende publicá-lo em versão fac-similar".
    
12. Torço para que a publicação não demore. Os fãs de Drummond, entre os quais me incluo, a partir d´agora, contarão as horas para, afinal, vê-lo publicado.
     
13. Paralelamente ao anúncio da possível chegada de "Os 25 Poemas da Triste Alegria",  a Veja diz que, após a morte de Lygia Fernandes, em 2003, seus familiares venderam seu apartamento e "recolheram o material" que se encontrava no imóvel da bibliotecária. A revista frisa que a família de Lygia se recusa a "divulgá-lo ou até mesmo falar sobre o assunto".
     
14. Isso me faz crer, que versos maravilhosos o Drummond deve ter deixado com Lygia, inspirados ou produzidos nos seus momentos de amor adultero... Um dia eles chegarão até nós...
       
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 11/11/2009
Reeditado em 27/09/2019
Código do texto: T1918367
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