Luzes de Natal

Estava absorta pensando na vida, quando me deparei com pequeninas luzes iluminando uma árvore de natal. Observei mais atenta. Hoje é dia 11 de novembro de 2009. Ainda não tinha sido capturada pelo espírito de natal. Imagino se também está na hora de remexer meus guardados e buscar a minha árvore de natal. Esse é o momento certo?

Não sei responder. Volto para meu interior e recomeço as minhas conjecturas tradicionais. Todo natal é a mesma coisa. Nos preparamos, enchemos a nossa casa de enfeites, providenciamos a indispensável ceia, os presentes natalinos, a reunião de família e... Ha! Não esquecemos de nossa solidariedade. Sempre contribuímos com uma cesta básica para alguma família carente. Meus filhos me indagam sobre a doação de quilos de alimentos para as famílias que moram no lixão. Achei bonita a ação deles, por apenas alguns instantes: A doação valia pontos na prova! E agora? Pergunto se o interesse é por causa da necessidade ou da fome das famílias do lixão.

A resposta jorra na ponta da língua: As duas coisas. Os pontos e a fome das famílias. O velho "unir o útil ao agradável". fico imaginado se a escola agiu certo ao estipular um prêmio para a solidariedade, que deveria ser gratuita e irrestritamente espontânea. Quem sou eu para julgar? De repente esse prêmio aumente muito a arrecadação das toneladas de alimentos para as famílias do lixão.

Os meninos dizem que tem um prazo para a entrega desses alimentos. Resolvo resoluta que darei os alimentos quando o prazo terminar. Sinto uma ligeira decepção nos olhos deles. Haverá a doação, mas não ganharão os preciosos pontos. Fico feliz ao ver que eles logo se aprumam e aceitam a minha decisão sem contestações. Isso é uma prova de que a humanidade não está tão perdida assim. Estamos perdidos, todavia não completamente.

Tenho absoluta convicção que somos errados ao querermos quase sempre ser solidários apenas no natal.

Da mesma forma que guardamos os nossos enfeites, a nossa árvore e as nossas fantásticas luzinhas de natal em um cômodo dentro de nossa casa, geralmente no guarda-roupa (esse é o meu caso!) ou no armário, guardamos igualmente nossos sentimentos. Armazenamos eles com todos os apetrechos natalinos, para deixá-los virem à tona apenas no natal. Que fiasco. Vocês já observaram que as campanhas para ajudar as famílias carentes se intensificam bastante somente em véspera de natal? E os demais meses do ano? As famílias ainda não precisam comer? As famílias ainda não têm fome?

Por que nós guardamos os nossos apetrechos natalinos juntamente com a nossa solidariedade e o nosso importar pela fome do nosso semelhante? Por que apagamos dentro de nós as luzinhas de natal? Por que não deixamos elas acesas todos os dias, todos os meses e todos os anos de nossa vida? Elas são tão lindas! Tão lindas como o sentimento da solidariedade e do importar com os nossos semelhantes, os nossos irmãos!

Creio que vou procurar em meu guarda-roupa os meus apetrechos de natal. Erguer e enfeitar a minha árvore. Entretanto, esse ano pedirei especialmente a Deus que me ajude a não apagar as luzinhas natalinas dos meus sentimentos quando o natal se for!

Vitinha
Enviado por Vitinha em 11/11/2009
Reeditado em 27/04/2010
Código do texto: T1918119