O Golpe do Combustível
Lendo “Para Viver um Grande Amor” de Vinícius de Moraes, deparei-me com a crônica chamada “O primeiro grande conto-do-vigário”. Golpe comum até hoje. Apesar da maioria dos brasileiros condenarem (apenas verbalmente) a corrupção, muitos se beneficiam dela, mas quando se trata de levar vantagem sobre a corrupção alheia, as pessoas chegam ao paroxismo da ganância; e eu adoro quando “entram pelo cano”.
Recordo-me de um golpe aplicado em um colega de trabalho, numa farmácia na qual fui responsável técnico. Estava um dia normal, muito calor em Goiânia, trânsito complicado, movimento fraco na farmácia, quando entrou na loja um homem baixo, gordo e barbudo. Fui em sua direção para atendê-lo. Eu disse bom dia, mas ele não me respondeu e foi direto ao meu colega Luismar, que estava atendendo um cliente. O barbudo cumprimentou-o com um aceno de cabeça, pareciam se conhecer, e ficou aguardando o final do atendimento. Após finalizar o atendimento, Luismar foi chamado para um canto, pelo conhecido, e conversaram por uns 10 minutos.
Ao fim da conversa, Luismar me chamou e disse:
“Esse ali – apontou para o barbudo – é o Valdivino. Ele é meu amigo de longa data; um irmão praticamente, e me falou que tem um esquema muito bom. È o seguinte, ele consegue umas requisições de combustível da prefeitura com um amigo dele, que trabalha lá e que é responsável pelo abastecimento dos carros do município. Com uma requisição dessas, você enche o tanque de gasolina do seu carro. Com cinquenta reais o Valdivino arruma três requisições. Eu vou comprar seis, na semana que vem eu saio férias e vou viajar. Você não vai querer?
“Não, eu estou sem dinheiro na carteira agora – respondi. (era mentira)
Luismar chamou o Péterson, outro colega da farmácia e contou sobre o esquema para ele. Péterson também entrou no esquema, e lhe passou cinquenta reais. Ele conversou com outros funcionários também, mas não conseguiu mais dinheiro.
Valdivino recebeu 150 reais, 100 do Luismar e 50 do Péterson. Ele não ficou muito satisfeito, pois tinha pedido ao Luismar para convencer todos os funcionários da farmácia, era um total de oito. O barbudo saiu dizendo que iria buscar as requisições e que voltaria em meia hora.
As horas foram passando e nado do Valdivino aparecer. Já estava na hora de fechar a loja e o Luismar irritado, ficava de um lado para outro elogiando o amigo.
“Aquele safado, filho-da-puta, desgraçado. Quando eu encontrar aquele gordo maldito, eu vou quebrar a cara dele. Vagabundo, miserável”.
Péterson logo se conformou.
Valdivino sumiu, e o Luismar e o Péterson nunca mais viram a cor daquele dinheiro.
Bem feito!