UM MURO, UM VESTIDO, UMA SOCIEDADE HIPÓCRITA...

Enquanto os olhos do mundo estão voltados para as comemorações do vigésimo aniversário da queda do Muro de Berlim, símbolo da guerra fria até os anos 80, aqui no Brasil o assunto do momento é o vestido rosa-choque da menina Geisy Arruda, símbolo da muralha preconceituosa erguida por uma emergente sociedade hipócrita.

Alunos de uma universidade particular, em São Paulo, alegando que a jovem Geisy estaria denegrindo a imagem da Instituição em que estudam, fizeram um manifesto hostil e violento contra a jovem que trajava um vestido curto, deixando à mostra suas grossas coxas. A universidade, por sua vez, disse que iria abrir sindicância para apurar os fatos e punir os responsáveis. Saldo das averiguações: apenas a jovem do ”vestido curto” foi punida.

A Instituição, buscando “prestar contas à sociedade”, decidiu por expulsá-la com a justificativa de que ela infringiu o regimento interno quando resolveu frequentar “as dependências da unidade em trajes inadequados, indicando uma postura incompatível com o ambiente da universidade”, trajes estes que deixavam à mostra “suas partes íntimas”, segundo palavras do assessor jurídico da universidade. Decisão preconceituosa e meramente matemática, uma vez que, do ponto de vista financeiro, expulsar um único aluno é bem mais lucrativo que expulsar 10 ou 20.

Dada a repercussão do caso, inclusive no exterior, o Ministério da Educação, a OAB e a UNE se manifestaram e pediram explicações acerca da decisão precipitada da instituição de ensino, e diante disso a Universidade voltou atrás e revogou a expulsão da jovem, contrariando a vontade dos falsos moralistas que de tudo fizeram a fim de conseguirem ver além das coxas de menina.

Eu, até agora, não consegui compreender o motivo de tanto alarde (principalmente da imprensa), pois é tão comum vermos mulheres com trajes bem menores desfilando por aí, inclusive nas igrejas! E o que mais me espanta é a hipocrisia desses que se dizem guardiões da imagem da Universidade, pois certamente muitos deles frequentam (ou já frequentaram) o sambódromo paulistano (ou lugares afins) em época de carnaval sem se preocuparem se a imagem do seu país (ou a sua própria) estaria sendo denegrida quando as rainhas das baterias e os destaques dos carros alegóricos desfilam totalmente nuas, com apenas um tapa-sexo.

Mas toda essa polêmica causada pelo vestido rosa-choque da garota contribuiu apenas para uma coisa: por ser jovem e bonita, brevemente ela será assediada por revistas masculinas cuja intenção é tão somente vender sua imagem desnuda àqueles mesmos rapazes que a hostilizaram; e caberá a ela, somente a ela, aceitar ou não as possíveis propostas.

E NINGUÉM TEM NADA A VER COM ISSO!...