O apagão em Itaipu e os Gansos - Fábulas Lado B - IV
Fábulas Lado B – Histórias que sua mãe não te contou IV.
O apagão em Itaipu e os Gansos.
Alexandre Menezes
Uma família de gansos da cidade do Rio de Janeiro corre desesperadamente para tentar se esconder com medo de mais uma crise estabelecida na cidade. Na entrada da favela onde moram, foram abordados pelo ganso responsável do tráfego dos animais:
- Para onde vão com essa pressa toda e no escuro? Disse o chefão armado até o bico.
- Não percebe que com o apagão em Itaipu vai acabar sobrando para nossa espécie? Indagou a precavida mãe ganso.
- Ora minha senhora. Aqui é tudo dominado. Nenhuma matilha de raposas de preto ou qualquer outro bando de animais se atreveria. Disse o segurança do morro.
- Não me importo com que tu pensas. Prefiro mesmo é me esconder no mato até que tudo volte ao normal. Respondeu a Gansa sem nenhum medo.
- Tens medo do quê afinal? Indagou mais uma vez o Ganso.
- Olha meu senhor. Não tenho medo de outros animais, nem de pipoca no prato com pinga, nem de vírus e nem de quase nada além da nossa própria espécie. Assim falou a nervosa Mãe Ganso.
- Mas por qual motivo mesmo que não confia nos seus iguais? Perguntou o Ganso dessa vez quase convencido.
- Ora! Ora! És empregado de bandido e não parece ter malandragem e muito menos conhecimento. Com essa inclusão digital nem aqui no morro existem mais canetas. Tudo é na base da impressora. Além do mais, também não há serviço postal oficial. Caso não se recorde, nossas penas eram utilizadas para que reis e poetas escrevessem suas cartas e mensagens.
- Tudo bem, mas isso é coisa do passado. Não chega a tanto minha senhora. Zombou o Ganso.
- Coisa do passado é um país como o nosso ficar várias horas sem energia, no escuro. Não há guerra ou qualquer outro motivo grave aparente. Isso ouvi pelo rádio que, graças a Deus, ainda tem pilha que também é coisa antiga. Imagina? Em lugar de pobre não tem geradores e se teu chefe resolve escrever um bilhete provavelmente arrancará penas dos mais pobres, fracos ou opositores.
- Minha senhora não acha que é realmente um grande exagero? Suspirou o já cansado Ganso.
- Pode até ser exagero como o senhor afirma. Mas, não irá discordar que nesses momentos de crise sempre sobra para a plebe. Não sei por quanto tempo ela demora a passar. Porém, se teu chefe resolve procurar uma tinta no armário para escrever uma cartinha de amor ou ao menos um breve comunicado, que seja com penas de outros rabos. Fomos!
A tinta sempre atinge o rabo do ganso mais frágil. E no escuro então?