O BABA OVO
O sujeito era terrível, um tremendo puxa-saco desses incorrigíveis, que acabam aborrecendo o dono do saco, objeto da sua bajulação.
Volta e meia, levava um esporro do seu ídolo, pois até puxada de saco, quando violenta, machuca e incomoda. Mas ele não tomava jeito.
Na empresa, puseram-lhe o sugestivo apelido de “Baba-Ovo”, o qual por si só já diz tudo. E comentavam, à boca pequena, as inúmeras oportunidades em que ele exercera de modo irrepreensível o seu mister.
Á sorrelfa, pois ninguém queria ter a sua inimizade:- da boca do homem saía um veneno mortífero, capaz de fazer muitos estragos! ...
E ele seguia praticando o oficio, como naquela tarde de sexta-feira, após um duro expediente diurno, no qual o chefão matou a pau os seus funcionários , com cobranças e reprimendas de toda ordem, culminando com uma reunião e um esporro geral na cambada, para ele um bando de pascácios incompetentes, todos preocupados apenas em defender o parco salário do fim do mês! ...
Acontecera que o “Baba-Ovo” teve que sair mais cedo, por motivo de viagem ao interior com a sua família. Mas não deixou por menos, invadiu a sala de reuniões, bem ao seu estilo, acercou-se do chefe (seu maldito mito do prestígio) e soltou sua pegajosa e odiada baba:-
“- Chefe, já tou indo mas se o senhor espirrar na minha ausência, desejo-lhe saúde, viu? ...”
-o-o-o-o-o-
Neves, 19/04/98