em busca da magia

Me embrenhei pela mata e fui subindo a montanha em um ritmo frenético. Me sentia desperto, todos os sentidos aguçados como os de um animal caçador. Meus ouvidos eram capazes de distinguir o menor ruído, meu olfato estava apurado, meu campo de visão parecia ter aumentado para além de 180°. Eu vivia um momento único, especial, transcendente; deixava o mundo dos simples mortais para me tornar um mago, e seria um grande mago com toda certeza. Bastava concluir aquela missão, uma simples missão, alcançar um objetivo banal: Subir aquela montanha e descer do outro lado. Só isso, nada mais.

Durante anos pesquisei livros antigos, estudei bruxaria, chamanismo, kabala, magia negra, alquimia… Tudo na procura incessante do poder. O poder de ter o controle sobre os eventos da natureza, o poder de transformar chumbo em ouro, o poder sobre as mentes das pessoas, agora tudo isso seria meu; graças ao mago D’agoster que conheci por intermédio de uma amiga da faculdade. Ele havia me dito que pertencia a uma família de dose irmãos, onze deles seguiram a magia negra e apenas ele havia optado pela magia branca. Aquilo me deixou mais tranquilo, afinal, depois de tudo que li sobre o assunto o que eu menos queria era me meter com essa gente. D’agoster foi o catalisador de tudo que eu tinha aprendido até então. Me iniciou nos mistérios da mente, onde tudo começa e termina. Me mostrou dimensões que eu sequer imaginava que existiam. Ensinou como dominar meus desejos, fonte de todo mal. E no fim me deu aquela missão idiota: Subir e descer uma montanha. (muito simples) Subir e descer.

Cheguei ao topo em aproximadamente duas horas de caminhada. Parei um instante para respirar e dar uma olhada na paisagem, em seguida comecei a descer pelo outro lado; quando de repente percebi que estava perdido. (é tudo tão igual. Árvores, árvores e mais árvores) Como saber se estava no caminho certo? Olhei em volta e, pela primeira vez, duvidei que pudesse levar aquela missão até o fim. Ficaria perdido na Mata Atlântica? Alguém me acharia um dia? Meu Deus! O que fazer?

Decidi seguir a água de uma pequena nascente, afinal, aquele fio que corria montanha abaixo, mais cedo ou mais tarde me levaria até a praia, que foi onde marcamos nosso encontro. D’agoster estaria me esperando lá. (me senti inteligente por tomar aquela decisão) Conseguir manter a lucidez n’um momento tão crítico foi ótimo.

A água da nascente se encontrou com outra nascente, depois com outra, e mais outra, e mais outra… Quando dei por mim já seguia um pequeno rio que serpenteava na busca de um caminho. E eu serpenteava junto com ele.

Depois de umas quatro horas de jornada montanha a baixo, eu já comecei a duvidar da minha inteligência em ter tomado aquela decisão. O rio havia se juntado a mais um, e ambos formavam outro muito maior. (bem… a minha opção agora era continuar em frente) A noite começava a dar seus primeiros sinais de que estava chegando; pássaros se retiravam em bandos para seus ninhos, a floresta já não tinha tanta luminosidade. Meu medo de que talvez tivesse que passar a noite ali foi aumentando. (apertei o passo) Ainda me sentia desperto e atento, mas talvez não o suficiente. Escorreguei em uma pedra, quando caminhava dentro do rio com água até as canelas, e cai sentado; a correnteza foi me levando cada vez mais depressa para uma queda que fazia um barulho intenso, bem na minha frente. (meu Deus… vou morrer) mas acredito que Deus achou que não era a hora; Ele colocou um tronco de árvore no meu caminho que foi a salvação, me agarrei àquele tronco com todas as forças, e depois de muito custo consegui sair daquele desespero.

Fui olhar o tamanho que seria o tombo, se não fosse o tronco, e fiquei de pernas bambas... Era uma queda de mais de quinze metros e lá em baixo as águas batiam violentamente nas pedras criando uma nuvem que encobria tudo até a margem. Eu me vi lá em baixo, estatelado numa daquelas pedras; teria sido horrível... e fatal.

Continuei ladeira a baixo. Depois de muitas voltas seguindo o rio da salvação, finalmente cheguei à praia. Havia anoitecido e D’agoster tinha acendido uma pequena fogueira. Me aproximei devagar, exausto, com sede, com fome, molhado e com frio. O mago me olhava sorrindo. – E então, disse ele, já se tornou um feiticeiro?

-- Você ta brincando? Não é você que vai me transformar em um?

-- Ninguém transforma ninguém naquilo que ela ainda não está pronta para ser Pedro. Pensei que já havia aprendido isso.

-- Então porque a montanha. Ela quase me matou.

-- A montanha é apenas para que você se lembre de que todos os caminhos são difíceis e traiçoeiros. Por menos que possam parecer.

Fique desnorteado, não estava preparado para aquilo. – E agora o que é que eu faço?

-- Você é quem decide Pedro, sempre será. Isso não e maravilhoso?

marcos villa verde
Enviado por marcos villa verde em 10/11/2009
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