Palavras Brancas

Ora, ora... Cá estou novamente transfigurando meus pensamentos em linhas de grafite que se transformam nas minhas palavras insalubres de sempre numa tentativa vã de apaziguar essa minha cabeça cheia e perturbada de preocupações tolas.

Mas o que exatamente escrever? Todos os pensamentos que me perturbam? Devo fazer dessa página um maldito temporário diário pessoal e sentimental? Nunca! Admito, sou poético, mas não faço esse tipo patético; creio que já escrevi isso numa antiga poesia, mas quem se importa?

Minha cabeça já começa a se distrair enquanto uma mulher fala coisas das quais não me interesso nem um pouco. Essa é uma das poucas características da minha mente que realmente me agrada: a facilidade com que me sinto só, mesmo em meio à trocentas pessoas... Claro que isso fica mais fácil com um lápis e um caderno; sem eles é o inferno!

Branco. Sinto minha mente assim: branca, tranqüila, nula... Às vezes ainda consigo relaxar estando dentre um turbilhão de palavras inúteis de pessoas tão desconhecidas (apesar de serem conhecidas). Gosto do branco das nuvens, mas também gosto das nuvens escuras e carregadas de chuva. Amo a Chuva...

“Queria ser como uma nuvem, não uma nuvem branca que passa quase despercebida, mas como uma nuvem negra de chuva que dificilmente é ignorada quando passa...”, disse uma antiga amiga - ou eu deveria dizer que foi um “ême”? - a algum tempo atrás.

Hoje discordo mais que antes desse pensamento dela. Nuvens brancas são belíssimas em sua tranqüilidade e das poucas vezes que são notadas, em um raro momento íntimo de profundo relacionamento nuvem-observador, talvez o observador seja um verdadeiro amante das nuvens, daqueles que não esquecem uma nuvem admirada e sabe distinguir facilmente tanto formas quanto significados dos mais variados de cada uma delas.

Eu sou um admirador de chuvas e brisas, não esqueço os momentos únicos de desânimo em que um simples sopro - como um novo sopro de vida - do vento, ou uma mera gota de princípio de chuva pode recobrar quase que por completo meu ânimo. Gosto de observar o modo como as árvores acariciam o amigo vento como se ele lhes trouxessem as novidades das terras distantes, de como essas mesmas folhas se refrescam quase promiscuamente nas doces lágrimas da chuva e principalmente de como é bela a interminável dança desse magnífico casal.

Acho que se eu perguntasse o que aquela velha amiga pensa hoje sobre o que ela mesma disse “ontem” eu faria uma nova amizade e sinto que seríamos mais uma vez bons amigos. Pelo menos enquanto durasse toda essa minha tranqüilidade...