Texto para um dia de natação, hidroginástica e neuras.
Alexandre Menezes.
Preciso acreditar na eficiência do cloro, do “limpa bordas”, dos tratadores e da minha psicóloga. Natação após a hidroginástica deveria ser proibida. Reflito sobre a postura da minha avó e sua amiga dentro da piscina. As duas fazem parte de um grupo de senhores e senhoras praticantes da modalidade numa academia próxima as suas casas.
Sobre os demais não posso falar nada, mas sobre elas tenho minhas desconfianças. É difícil concluir uma conversa sem que façam pausas para irem ao banheiro. Creio que no espaço de uma hora cada uma utiliza ao menos duas vezes o sanitário. Parece que após certa idade é comum a incontinência urinária na região onde moram.
Sem falar na pobre da Charlote, a cadela da minha avó, que sem entender nada, sempre é responsável por carregar a culpa das duas senhoras flatulentas quando estão juntas. É só subir aquele odor de bufa que se escuta a mesma frase condicionada: “saia daqui Charlote, cachorra nojenta...”. A coitada já foi responsabilizada até não estando em casa. Poderes sobrenaturais – tosando no Pet Shop e bufando ao mesmo tempo em casa. A teoria de Skinner deve explicar esse comportamento.
Três vezes por semana a condução da academia busca a minha avó, sua vizinha e alguns outros praticantes. Certa vez o transporte não pôde buscá-las, por estar na revisão, e então minha mãe, preocupada com minha avó, pediu para que eu a levasse, afinal, é parte das recomendações feitas pelo geriatra. Dois dias intensos para um ser como eu que tem a péssima mania de relacionar qualquer cisma à terapia.
Meu excesso de curiosidade era bonitinho na infância. Hoje, já adulto, preciso parar como essa mania de querer entender e ler sobre tudo. Converso até pelos cotovelos e pergunto demais. Já na primeira aula, o neto da Dona Elisabethe era um sucesso. Educado, atencioso, prestativo e comunicativo. Melhor seria ter ficado no carro esperando ou observando a sala de spinning. Ouvir e ver, muitas vezes, faz um mal danado.
Dos problemas comuns entre os velhinhos estavam a diabetes, a artrose, a osteoporose, a hipertensão arterial e outros freqüentes na velhice. O engraçado é que nem a minha avó foi capaz de citar sua bexiga compulsiva. Fiquei olhando fixamente para a água e descobri porque idoso gosta de ter cachorro por perto. Deve ser triste não poder levar seus animaizinhos para a hidro. Em memória deles, ficam estapeando a água a qualquer sinal de bolhinhas que devem ser de gás sulfídrico. Além de ser solúvel em água, fora dela, o que elas soltam, paralisa o sistema nervoso e causa asfixia.
Tão comum quanto as doenças ósseas é a dificuldade de entrar e sair da água. Porém, uma coisa me deixou intrigado: não é possível que durante os 45 minutos nenhum deles sentisse vontade de ir ao banheiro ou de colocar a culpa nos cães. Está certo que 30 seres humanos, durante esse tempo, são capazes de produzir poucos litros e urina e alguns gramas de gás. Isso misturado a milhares de litros de água é irrelevante, mas vai dizer para minha mente parar de pensar nisso.
Realmente Deus existe e, se não existisse, alguém o teria criado após certas observações. A van voltou da revisão e eu a terapia. Nado quatro vezes por semana e, duas delas, logo após sessões de hidroginástica em outra academia. Durante algumas aulas ficava imaginando coisas e perdia a concentração.
A psicóloga diz que sou engraçado e que meus problemas são “ótimos”. No nosso último encontro, conversamos sobre a minha provável urinoterapia forçada e, sobre os gases, ela me aconselhou esquecer. Voltei a freqüentar a natação quase sem neuras. Na hora de ir, tento tirar essas coisas da mente. Só não tiro o xampu e o sabonete antibacteriano, receitados pelo dermatologista, da mochila. É sempre da piscina para o banho.
Observações:
Para aquelas que começaram a ler recentemente meus textos explico. Há sempre abordagens cotidianas na maioria deles. São mais ou menos assim:
1- “Texto para um dia de...” – Os textos em que os títulos iniciam-se assim retratam relações pertinentes a conflitos e dissabores. Personagens e situações totalmente “tortas”. Mesmo que finalizem de forma trágica, percebe-se esperança, aceitação ou, até mesmo, certo gosto cômico pelo erro ou pela dor. Considero-os bastante interessantes.
2- Fábulas Lado B – Ilustrações do dia-a-dia contadas de forma lúdica por animais. Quase uma sátira aos dias modernos. Não aconselhadas para crianças.
3- A série de cartas – recados absurdos para diversas personalidades em situações mais absurdas ainda.
4- Cantigas de Roda, folclore e lendas – Zé de Marley explica. A série são relatos de divagações feitas por um maluco do Planalto Central. Ele tenta explicar assuntos tradicionais e folclóricos totalmente fora do eixo.
5- Poemas de Loucura – Loucura mesmo. Não tenho habilidade para floreios e coisas bonitinhas. A maioria foi escrita na adolescência.
6- Contos de Terror – medroso por natureza, toda vez que escrevo um conto de terror faço outro texto logo em seguida para tentar esquecer (risos) senão fico acordado. São escritos para a participação num projeto idealizado pelos escritores Xande Ribeiro e Flávio Souza. Sempre um começa e o outro termina.
7- Ainda há textos avulsos e é a minoria.
Espero que tenham interesse e leiam outros e façam indicação aos amigos. É fácil, apenas copiei e cole o seguinte link:
http://www.recantodasletras.com.br/escrivaninha/publicacoes/index.php
Forte Abraço.