O pranto dos inocentes

O PRANTO DOS INOCENTES

Separados, casamento desfeito, vão caminhar pelo mundo para uma nova vida, novos amores. Saíram, encostaram a porta simplesmente e nem olharam para trás. Procurariam esquecer o passado onde o amor começou. A porta fechada ocultaria a antiga vida na esperança de uma nova cheia de alegria. Juntaram tudo apressadamente. Não olharam e nem se importaram com o destino daquelas figurinhas ao seu redor, aqueles frutos ainda verdes que foram gerados na emoção do amor e que nada estavam entendendo.

Saíram separados, encostaram a porta e nem olharam para trás....

Parecia fácil, simples. Mas não era bem assim! Nunca mais o calor amigo, as carícias trocadas á média luz, a intimidade, a doação! O que seria daqueles frutos que brotaram do desejo, que precisavam do orvalho do amor, do sol da esperança, da palavra “meu filho”, da presença, do apoio, da proteção, do colo, do abraço, do beijo, do aconchego, das histórias contadas para dormir e de quem os ensinassem a andar de velocípede e de bicicleta ?

Saíram separados, encostaram a porta e nem olharam para trás....

Será que tudo se resumiria em apoio material, um presentinho e uma visitinha de vez em quando? O que será dos avós, origem dos dois galhos que agora feneceram e se dispersaram no ar como as areias do deserto nas tempestades? Quanta angústia, quanto choro, quanta decepção!

Saíram separados, encostaram a porta e nem olharam para trás....

Restou um ar de espanto no olhar daqueles frutos e no silêncio eles indagam:

- Por que isto? Não estamos entendendo! Pareciam tão amigos, tão carinhosos... Passeávamos de mãos dadas, tomávamos sorvetes, ríamos juntos, íamos ao parque, ao shopping. Adormecíamos nos seus colos, coçavam nossas cabeças. Quantas vezes com medo do “bicho” dormíamos agarradinhos neles. E agora? O “bicho” vai nos pegar? Vamos sentir o frio das madrugadas? Quem vai nos ajudar nos nossos deveres escolares? Como não sabemos nos expressar, só nos resta um olhar angustiado, assustado, o choro fácil, a rebeldia, a falta de apetite, a tristeza, o xixi na cama...

Na solidão das noites procuramos e não achamos vocês: - Onde estão suas mãos? Dê-me as suas, Papai, dê-me as suas, Mamãe. Queremos segurá-las. Encostem-nos os seus rostos, queremos beijar e abraçar vocês. Queremos nos dependurar nos seus pescoços, e dizer: nós amamos vocês. Papai, Mamãe, por que não respondem aos nossos apelos? Por que este silêncio? Por que nos abandonaram? Vocês não nos amam mais? Nós continuamos amando vocês, amando muito! Choramos um pranto de amor, de saudade, de desespero, choro de crianças desamparadas, angustiadas, com fome de carinho. Quem afagará nossos cabelos? Somos crianças indefesas, precisamos de vocês juntos. Não queremos dinheiro ou presentes, queremos vocês. Voltem! Ainda há tempo! Estamos esperando. E nossos coraçõezinhos serão felizes novamente. Atendam nosso derradeiro apelo: - abram a porta, entrem. Olhem para nós, peguem-nos no colo, abracem-nos, enxuguem nossas lágrimas.

- PAPAI DO CÉU NÓS IMPLORAMOS, PROTEJA NOSSA MAMÃE, PROTEJA NOSSO PAPAI, NÃO PERMITA QUE ELES SE ESQUEÇAM DE NÓS.

Doze de Outubro – Dia da criança: desejo que Deus ouça estes apelos e dê a todos vocês, crianças com lares desfeitos, proteção, carinho e todo amor que o papai, a mamãe ou ambos lhes negaram.

Cassec
Enviado por Cassec em 10/11/2009
Código do texto: T1915169
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