QUANTO VALE UMA CESTA BÁSICA?
Hora do comício. Praça cheia de gente. Banda de música, rojões, clima de festa.
Um político sobe no palanque e começa a derramar promessas num palavreado empolado e pouco convincente, como sempre, repetindo surrados chavões que os mais crédulos aplaudiam enquanto os céticos permaneciam, silenciosamente, irônicos.
E foi então que, um meninote, inesperadamente, para surpresa geral, jogou um ovo na cara do figurão.
Ensolarada tarde de domingo. Várias famílias faziam piqueniques à beira de um rio.
Um menino de rua, maltrapilho, andava por ali, mendigando restos de lanches, para desgosto das pessoas que viam nele uma ameaça.
Achavam que ele podia roubar alguma coisa e proibiam as crianças de se aproximarem dele, pois “sabe-se lá o que ele pode fazer ou dizer?”
De repente, uma criança pequena caiu no rio.
As águas eram fundas e revoltas, seria uma temeridade tentar nadar ali.
Todos se agitaram, mas ninguém teve coragem de tentar salvar o pequenino.
A mãe, desesperada, quis atirar-se ao rio na tentativa insensata de salvar o filho, mas foi impedida de fazê-lo. De que adiantaria? Não sabia nadar. Ia morrer também.
E foi então que o pivete, para surpresa geral, sem vacilar por um momento, atirou-se na água.
Criança crescida na rua, sem ter quem lhe apontasse os perigos, aprendera desde cedo a enfrentá-los e vence-los. Acostumara-se a nadar em águas tormentosas sem pensar na vida nem na morte e. habilidoso, conseguiu pegar a criança a trazê-la até a margem.
No dia seguinte, na primeira página do jornal da cidade, apareceram os dois garotos e suas façanhas.
Os noticiários da televisão também registraram os fatos.
Ambos foram destaques por um dia, mas, o garoto salvador foi rapidamente esquecido, enquanto o insolente continuou em evidência por muito tempo.
A cena foi repetida exaustivamente em todos os meios de comunicação.
A figura patética do ovo escorrendo pela superfície de madeira polida foi explorada por todos os humoristas e não houve quem, em todo o país, e quiçá no Mundo, não risse da grande piada.
O garoto atrevido, entretanto, foi detido pela polícia, encaminhado a delegacia e seu pai foi intimado a responder pela brincadeira.
Mas. . .
O pai do rapazinho era amigo do delegado. (em cidade do interior todo mundo se conhece e todo conhecido é amigo). O delegado não foi muito enérgico na advertência. Acabou rindo da travessura e, só para não deixar de graça, intimou o amigo a doar uma cesta básica para o Serviço de Assistência Social.
Preço bem baixo para a popularidade e a fama.
A família do menino salvo, quis agradecer o moleque que o salvou e mandou também, para a sua família, uma cesta básica.
Preço bem pequeno para a vida de um filho!
(Imoralidade da história: Mais vale empanar a cara de um político do que salvar a vida de uma criança)