Real e virtual

               Rosa Pena



O mundo procura o amor. O mundo procura
Al-Qaeda.
O mesmo mundo?
Será que eles existem mesmo ou são invenções americanas?
Bem, muitos acham que o melhor lugar para se achar o amor atualmente é a net, supondo-se que ele exista. E ele existe sim... Sempre, é eterno! Viva o amor!
Já a
a organização fundamentalista islâmica não sei onde procurar. Ela não é virtual. As bombas pelo menos são bem reais.

 Está tão ruim conviver com a realidade, mas tão brabo, que isso aqui fica parecendo o paraíso.
Por aqui não tem homem-bomba (tem homem-vírus), não tem Beira Mar (tem fora do ar), não tem Felix (nem a Globo ), não tem BBB (até tem uns confinados, mas dá pra levar), não tem briga pela audiência (ou tem??? meu grupo, meu face... blábláblá), não tem mensalão, tem aparentemente amor para dar e  amizade para se ganhar.

Continuo atraída pelo mundo virtual, mas  ao mesmo tempo começo a ficar preocupada e entediada. Considero que aqui estou protegida da bala perdida, sou conhecida, estimada, querida. Este é o foco de atração que me prende. "Mas há tanta vida lá fora e aqui dentro?!!"
 Vejo pessoas que estão sofrendo de verdade, não é só virtualmente quando estão na frente do micro. Estão estourando com suas vidas reais, por personagens que criaram para conviver melhor consigo mesmas. E esses personagens tomaram a alma da pessoa, mas não tomaram o RG. Então começo a questionar o perigo da fantasia superar a realidade.

Criei amigos virtuais e muitos viraram reais. Criei sonhos virtuais e reais.Alguns com o pé no chão, outros tomando Red Bull... 

Esses voadores, no dia a dia da vida, acham que a poesia pode servir de almoço, que ela paga as contas, lava lençóis, e que a partir desse novo relacionamento devemos deletar nossas famílias, planos de aposentadorias, projetos de férias no Sul e sermos exatamente iguais ao que somos na net. Se a Rosa é poeta, uma sonhadora, sempre pronta para rimar e formatar, tem que continuar sendo exatamente isso. Risonha, brincalhona, chorona etc. Nada de ter passado e nada de pensar no futuro. Cotidiano e rotina, exclua do arquivo. Viva apenas o virtualismo.

Tá maluca em fazer feira? Tem sono? Acordada sempre, pois quero ligar para você de madrugada! Que marido qual nada.
Poetisa também tem TPM na vida real. Que droga, né? Na net ninguém sabe quando estamos com o nariz entupido, quando a feijoada bateu torta ou a conta venceu. Duras realidades esquecidas.
O sonho acabou? 
Não, lógico que não. É permitido sonhar sempre. Com quem e da forma que quiser. Sonhos são fascinação.Seu amor está aí dentro do coração. É seu!
Mas não se esqueça nunca de que o sonho pode ser só seu e que se você acordar o culpado disso não é o alvo deles. 


Em tempo, conheci o Caetano Veloso há quatro anos, em um consultório médico, discutindo asperamente com a recepcionista sobre o horário. Estava com pressa e puto da vida por estar com azia.
Continuo achando ele um dos maiores compositores de todos os tempos, caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento. Como também acho que ele é romântico para burro, e talvez seja muito bom de cama. O Caetano compositor, o poeta.
O homem que brigava no consultório era horrível, quer dizer, era real, em um dia péssimo. Não sorria, não combinava com Alegria, Alegria!

Cada um tem o seu tempo, seu movimento, seu momento, com ou sem documento.Continuemos sonhando, sem obrigar os protagonistas a serem o que idealizamos.
É lindo sonhar, mas não esqueça que o arco-íris é real.

2002


 livro: Eu e a Net..
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 19/01/2005
Reeditado em 21/08/2013
Código do texto: T1914
Classificação de conteúdo: seguro
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