PALMATÓRIA

Talhada em madeira de lei,com cerca de uma polegada e meia de espessura, grosso cabo de mais ou menos 30cm onde havia pequeno furo na dimensão de um parafuso numa das extremidades, e na outra, cujo objetivo visava realmente apavorar, terminando em forma de grande esfera, exatamente do tamanho da palma da mão, a palmatória era o símbolo mais sinistro da ignorância e do autoritarismo sem diálogo dos pais antigamente. Presente decerto em todas as residências de décadas atrás, ou pelo menos na maioria delas, a palmatória ficava pendurada no lugar mais visível da parede da sala como se em silêncio estivesse dando um aterrorizante aviso à molecada para andar na linha. Bastava somente a mãe ou o pai apontá-la com expressão séria para a meninada tremer de pavor.

Os castigos produzidos pela palmatória, os mais que famosos "bolos" aplicados na palma de cada mão, às vezes cinco em uma e mais cinco na outra, dependendo da extensão da malcriação, pareciam tortura da Idade Média. A dor dos "bolos" aplicados, acentuada pela sequencia ininterrupta das pancadas, fazia o torturado "ver estrelas" literalmente. Quando qualquer meninote se sentia prestes a ser disciplinado por qualquer dos genitores com a palmatória, a primeira reação instintiva era fechar com bastante força a mão pensando dificultar o castigo. Mas isso de nada adiantava, se tinha que ser castigado, seria sem misericórdia. "Abra a mão!" Gritava furiosa a mãe(ou o pai) "Se não abrir vou bater nos nós dos dedos!" Essa ameaça apavorava ainda mais. E o pobre coitado, temendo o pior e já às lágrimas antes de apanhar porque sabia o quanto machucava aquele castigo amaldiçoado, timidamente entreabria os dedos devagar e fechava os olhos para esperar o primeiro dos tantos "bolos" que lhe seriam desferidos. Seus gritos de dor e desespero, a seguir, ecoavam pela vizinhança, naquele momento todos sabiam que havia uma criança ou um adolescente apanhando de palmatória.

Até mesmo algumas escolas particulares e municipais dos velhos tempos usavam as malfadadas palmatórias para intimidar os alunos menos estudiosos ou peraltas. Os estudantes viviam sob constante temor, os nervos à flor da pele. Eles sabiam que por qualquer bobagem estariam sujeitos à dureza da palmatória. Réguas enormes de plástico duro, muitas vezes, as substituíam nos colégios, porque com elas seria possível alcançar o rebelde sentado um pouco mais distante do lente. Como feitores, os professores andavam pela sala de aula brandindo o "porrete" com a maior naturalidade e batiam nos braços, nas costas ou na cabeça da criançada sem perigo de receber represália das autoridades educacionais competentes ou dos próprios pais, que conheciam a prática, pois isso era a coisa mais comum e normal do mundo na época.

A palmatória reinou absoluta por muitos anos, a geração hoje no auge dos cinco ponto zero a conheceu e lembra bem desse estilo medieval praticado por nossos pais e educadores. Ao olhar para o passado escrevendo esta crônica, deito meus olhos sobre as paredes nuas de palmatória de meu lar e fico a refletir se ela não seria uma alternativa razoável para os dias libertinos, debochado pelas drogas, violência e tanta rebeldia de hoje. Guardadas as devidas proporções evidentemente, avaliando o que de positivo poderíamos descobrir no seu uso preventivo e humano de forma a não permitir tantos descalabros acontecendo atualmente nos lares e nas ruas. Não é de pequenino que se dobram os pepinos?

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 09/11/2009
Reeditado em 18/06/2021
Código do texto: T1913864
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