Cantigas de Roda, folclore e lendas II – Zé de Marley explica. Se essa rua fosse minha

Cantigas de Roda, folclore e lendas II– Zé de Marley explica.

Se essa rua fosse minha - por Zé de Marley.

Alexandre Menezes.

Quase sexagenário, Zé de Marley, transmite seus conhecimentos na Praça dos Três Poderes. Inicia hoje o seu trabalho, entre um trago e outro, a partir de reflexões sobre a cantiga de roda “Se essa rua fosse minha”, sob a lua do céu do Planalto Central. Segue o relato:

Por que ladrilhar uma rua com pedrinhas de brilhante para o amor passar? Ora meus queridos e queridas, é apenas a demonstração figurada da regra número 01 do manual dos cafajestes: Se o objetivo de um homem é iludir uma mulher para dela aproveitar-se, ele não dirá o que pensa, dirá o que ela gosta ou, principalmente, precisa ouvir. Ser sincero e verdadeiro pode, nesta fase de conquista, por tudo a perder.

Mulheres tendem a ser carentes, sonhadoras e românticas. Acreditam no amor, no príncipe encantado e que homens perfeitos e ideais existem. Não é por acaso que fazem parte da estante e da memória de um bom salafrário alguns volumes da obra de Vinícius de Morais e revistas Marie Claire. Então, dizer que ladrilharia a rua para o amor passar, trata-se de um modelo ensinado na infância, ao subconsciente masculino, de como ter relações sexuais mais facilmente. Enquanto os de inúmeras mulheres suspiram: “ainda encontro um homem assim...” Difícil missão.

Na segunda parte da canção é a demonstração perfeita que a estratégia deu certo e que, após a meta ser alcançada, o aproveitador partiu recentemente. Recente porque, sem entender ou aceitar o que ocorreu, a iludida ainda cria metáforas carinhosas. Trata o seu amor fujão como anjo e a rua dos encontros e lembranças como bosque solidão. É provável que, com o tempo, o nível das palavras relacionadas ao conquistador, aos lugares e recordações baixe bastante.

Fugir, nessas situações, não será para sempre e, mais cedo ou mais tarde, o dissimulado será encontrado para ser cobrado por suas atitudes. Na última parte do texto em análise, inicia-se o ensinamento da desculpa a ser dada a cobrança: “ se eu roubei teu coração, tu roubaste o meu também...’ Perceba, dividir a culpa é fundamental. Frases como: “eu também te amei”, “sofro tanto quanto você”, “quero que saiba o quanto te quero bem” ... geralmente são sucedidas por outras do tipo: “mas, não te quero mais”, “mas, não dá mais” mas é melhor cada um seguir o seu caminho” ou qualquer outra de sentido similar.

Nos dias atuais, as mulheres passaram também a enganar e, muitas vezes, fingem que estão sendo enganadas por conveniência. Só que é bastante comum ouvir relatos de insatisfação por terem vivido situações semelhantes as esplanadas aqui. Inclusive, é comum a afirmação infame de que toda mulher um dia se relacionará e sofrerá por um cafajeste. Da mesma forma, relatos de belos relacionamentos são comuns.

Pode até ser que haja a existência de amores eternos, ao menos enquanto durem, da forma que dizia o poeta. Com o fim do amor, o carinho e o respeito, em alguns casos, assumem o controle e fazem a relação seguir de maneira igualmente bela, apesar de vivermos na geração dos filhos de pais separados.

Para finalizar, apenas digo - façam testes – dêem bola aos engraçadinhos e perceba que logo surgirão convites para conhecer suas casas, terminar o encontro num lugar mais à vontade ou convide para subir até o seu apartamento. Uma coisa é certa: até que se torne num amor verdadeiro vocês já terão transado diversas vezes. Não se iludam, a hipótese de, desde o início, levá-las para a cama nunca é descartada. Desconfie de quem te daria até as estrelas.