EM CLIMA DE FASCINAÇÃO
Em clima de fascinação
Com a proximidade das férias, começo a fazer mudanças em casa. É que os meninos (assim é que os chamo) estão para chegar de Salvador, onde estudam. Mudo móveis de lugar, pego uma coisa daqui, outra dali e entro num clima de agitação com tantos preparativos, que nem sinto o tempo passar.
As férias trazem muito agito para os adolescentes e muitas preocupações para mim que, após alguns dias de espera ansiosa, já demonstro cansaço na fisionomia. Mas nada que me impeça de brincar com eles e me divertir o tempo em que ficam em casa.
Caro leitor, imagine trinta ou mais dias de férias com essa garotada entrando e saindo, sempre num clima de euforia! São cenas ricas de movimentos, cores e sons que dispensam texto ou fotografia. Elas falam por si.
Quando saem para o clube, a praça ou as lanchonetes, nossos protagonistas roubam a cena nessa improvisada, colorida e divertida “peça teatral”. Levantam vôo com os encontros e aterrissam com os desencontros nesse grande palco onde representam.
É a magia dos sonhos que os faz assim tão excêntricos, assumindo comportamentos muitas vezes contraditórios. Vivem num mundo agitado por conflitos e diferenças sociais e, muitas vezes, saem do campo egocêntrico e passam a assumir, nesse quadro caótico, posturas inquietantes. Sacodem a apatia e questionam sobre os grandes problemas sociais que abalam as mentes mais sensíveis.
Nesse mundo volátil em que vivem, os dias acontecem sacudidos por uma onda de sonhos mágicos e agitados; a nossa casa, antes vazia e silenciosa, vive agora dias de “tempestade”. A calma que reinava dá lugar a um entra e sai de adolescentes que ora ouvem rock, ora conversam entre si com risos e brincadeiras.
E eu fico a pensar que, nesse afã de viver cada momento como se fosse o último, eles não se divertem deveras. Mas isso apenas existe na minha cabeça e na cabeça desses pais “caretas”, que tentam conviver com a desordem e o barulho para compensar os dias de ausência e solidão.
A verdade, caro leitor, (talvez pai ou mãe de adolescentes também), é que se paga um preço muito alto para conviver com esses avanços da juventude. Ou entramos na “onda” em nome de uma paz que não se sabe quanto tempo vai durar, ou transformamos nossa casa em um cenário de discussão. O que definitivamente não fazemos. Preferimos entrar na “onda” e dar um salto para atingir o objetivo: HARMONIA.
Num romantismo insólito, eles adotam um comportamento epicurista, o “carpe diem”, pois querem gozar o momento presente, livres de compromissos, próprio do lirismo barroco. Às vezes, penso ser essa uma vida paradoxal diante das atitudes que tomam em determinados momentos. Mas como eles vivem mundos de contradições, ora assumem banalidades, ora praticam gestos altruísticos, são capazes de vôos arrojados e de aterrissagens mais calmas. Contudo, há de se convir que esses comportamentos contraditórios tendem a desaparecer, pois essa é uma fase de reelaboração mental muito fecunda e de muita efervescência. Haja paciência...
Mas chega bem rápido o dia da sua volta aos estudos. Partem, deixando para trás uma casa vazia e silenciosa e... muita saudade. Penso até que essa euforia toda, essa animação e esse viver assim agitado têm caráter terapêutico para nossa vida que insistimos em não acomodar, para o nosso ego que também insiste em não envelhecer.
Realmente, vivemos todos em clima de fascinação.
rEAMENTE