Futebol Argentino

A Argentina sempre foi a maior adversária futebolística do Brasil, na América do Sul. E tudo começou em 1914 quando a nossa Seleção fez sua primeira partida oficial, no Estádio do Gimnásia y Esgrima, em Buenos Aires, no dia 20 de setembro. Era um prélio amistoso, mas que arrastou cerca de 19 mil pessoas para assisti-lo. Um público muito grande para a época.

A Seleção Argentina venceu o Brasil pelo placar de 3 x 0. O Brasil levou o que tinha de melhor e formou assim: Marcos de Mendonça, Píndaro e Neri; Egídio, Sílvio La Greca e Pernambuco; Milom, Osvaldo Gomes, Arthur Friedenreich, Bartô e Arnaldo. A equipe foi orientada por Rubems Sales, que não pôde atuar devido a uma contusão, mas era o craque mais famoso do Brasil, na época e jogava pelo Paulistano.

Sete dias após essa partida, isto é a 27 de setembro de 1914, houve uma nova partida. Nessa, o Brasil venceu por 1 x 0, no mesmo estádio sempre lotado. Rubens Sales foi o autor do gol brasileiro. O primeiro gol brasileiro da história entre os dois paises. No Brasil, apenas Rubens Sales entrou na segunda partida. A Seleção Argentina jogou com o mesmo onze do jogo anterior: Juan Ritner, Bernusconi e Lanus; Naom, Sande e Santiago Saiones; Lamas, Leonardi, Piagio, Izaguirre e Francisco Crespo.

Neste jogo foi instituída a Copa Roca, que viria a ser disputada entre os dois paises, sempre que o calendário permitisse.

Em 1919 o Brasil conquistou seu primeiro Campeonato Sul-americano, que foi realizado no Rio de Janeiro. Na partida final, contra a Argentina, vencemos por 3 a 1, no dia 18 de maio de 1919. A Seleção brasileira formou com: Marcos de Mendonça, Píndaro e Bianco; Sérgio, Amílcar e Fortes; Millom, Neco, Friedenreich, Heitor e Arnaldo. A Argentina alinhou com: Isola, Castanhola e Reis, Matozzi, Uslenghi e Martinez; Colomino, Izaguirre, Edwin Clarke, Brigueto e Perineti.

Os gols dessa final foram marcados por Heitor, Amílcar e Millom, para o Brasil, e Izaguirre para a Argentina. O Estádio foi Álvaro Chaves, nas Laranjeiras, com 21000 espectadores.

Já em 1921, no Sul-americano realizado na Argentina, tivemos lamentáveis ocorrências quanto à descriminação racial. Diziam os argentinos que os brasileiros eram “los macaquitos”, e o Senhor Epitácio Pessoa, então presidente da República, pediu a C.B.D. (Confederação Brasileira de Desportos) que levasse para Buenos Aires apenas jogadores brancos. Assim, até Arthur Friedenreich que era mulato, e o maior jogador do Brasil no momento, não pode ir. Desta forma, muitos bons jogadores ficaram de fora da Seleção.

No dia 2 de outubro de 1921 o Brasil enfrentava a Argentina, no estádio Barracas de Buenos Aires, formando com: Kuntes, Barata e Telefone; Dino, Lais e Alfredinho; Zezé, Candiota, Frederico, Machado e Torres. Era um autentico combinado Fla-Flu com Frederico do Bangu e Alfredinho do Botafogo. Perdemos por 1 a 0, porem o goleiro Kuntes, do Flamengo, fechou o gol do Brasil.

Esse clima hostil perdurou por muitos anos na Argentina. Tivemos outros confrontos entre as duas melhores escolas futebolísticas das Américas.

Em 1939, o Brasil que havia feito excelente figura na França pela Copa do Mundo de 1938 (ficou em terceiro) sediou a Copa Roca. E talvez com um pouco de salto alto, enfrentou a Argentina no estádio de São Januário, em 15 de janeiro de 1939. Perdemos por 5 a 1, para uma das melhores Seleções Argentinas de todos os tempos. O Brasil alinhou com Batatais, Domingos e Machado; Bioró, Brandão e Médio; Luizinho, Romeu, Leônidas, Tim e Hércules. Nossa linha média não era a titular. Em 1938, a linha média titular do Brasil era formada por Zezé Procópio, Martins e Afonsinho.

A Seleção Argentina formou com Glauco, Coleta e Montanhês; Arcádio Lopes, Rodolfi e Arico Suares; Peucelle, Sastre, Massantonio, José Manoel Moreno e Henrico Garcia.

Em 20 de dezembro de 1945, pela Copa Roca, no Estádio de São Januário. Público de 55 mil espectadores. O Brasil devolveu uma goleada aos argentinos. Brasil 6 x 2 Argentina. A Seleção Brasileira formou com: Ari, Domingos e Norival; Zezé Procópio, Rui e Jaime; Lima Zizinho, Leônidas, Ademir e Chico. Os gols brasileiros foram marcados por Ademir (3), Zizinho, Leônidas e Chico. A Seleção Argentina formou com Vaca, Maranti e Sobrero; Fonda, Peruca e Bataglieiro; Bóie, Pedernera, Pontoni, Martino e Sued. Os gols argentinos foram marcados por Pedernera e Martino. Segundo cronistas da época esse time argentino foi um dos melhores de sua história.

Ainda durante o ano de 1945 tivemos um confronto histórico pelo Sul-americano, em Santiago do Chile. Argentina e Brasil decidiram o título da competição em 14 de fevereiro de 1945, e que na visão de jornalistas conhecedores do futebol brasileiro, Flávio Costa montou um dos melhores ataques da nossa Seleção, superado apenas mais tarde pelo ataque de 1958, que incluía Pelé e Garrincha, que nenhum ataque de jogadores “normais” poderia superar. Mas em 1945, Brasil perdeu a final para a Argentina por 3 x 1. O Brasil formou com Oberdam, Domingos da Guia e Beliomini; Biguá, Rui Campos e Jaime de Almeida; Tesourinha, Zizinho, Heleno de Freitas, Jair da Rosa Pinto e Ademir de Menezes. A Argentina formou com Vaca, Salomón e De Zorzi; Sosa, Peruca e Colombo; Munhoz, Mendez, Pontoni, Martino e Lostau.

Mendez marcou três vezes e Ademir de Menezes fez para o Brasil.

Tivemos mais confrontos com os “platinos” em 1946, durante o Sul-americano realizado na Argentina. Houve muita briga e o nosso médio direito Zezé Procópio, que não tinha medo de cara feia, respondia a altura à violência empregada pela dona da casa. Foi expulso de campo e, segundo o cronista esportivo já falecido Geraldo Bretãs, até a cavalaria entrou em campo para retira-lo. Num ambiente assim, só poderia dar Argentina 2 x 0 Brasil.

O Brasil formou com Luiz Borracha, Domingos e Norival; Zezé Procópio, Danilo e Jaime; Tesourinha (Lima), Zizinho (Ademir de Menezes), Heleno de Freitas, Jair da Rosa Pinto e Chico. A Argentina formou com Vaca, Salomon e Marante; Fonda, Strembil e Pescia; Dela Mata, Mendez, Pedernera, Labruna e Lostau.

Era uma fase de ouro da Argentina, que podia formar até três seleções ao mesmo tempo e ainda sobrariam muitos jogadores. Os argentinos, com todo esse potencial humano poderiam ter conquistado muito mais do que conquistaram. Brigas internas sempre atrapalharam.

Às vésperas de 1949 e 1950, no campeonato Sul-americano e na Copa do Mundo que seriam no Brasil, a Argentina esteve ausente, visto que a Colômbia formara uma Liga “pirata”, oferecendo verdadeiras fortunas aos jogadores do continente, na época, e não precisavam pagar pelo passe dos jogadores. Assim, o Boca Júnior, o River Plate, O San Lorenzo, o Estudiantes, o Racing e o Independiente se viram, de uma hora para a outra, sem a quase totalidade de seus melhores jogadores. Para a Colômbia também seguiram alguns brasileiros, uruguaios, paraguaios e chilenos.

No momento atual, espero que a Argentina se classifique para a próxima copa do mundo, na África, mesmo com Maradona no comando, o maior craque do moderno futebol argentino. Mas para a velha guarda, o maior jogador argentino foi Adolfo Pedernera, não só para os argentinos, mas para muitos brasileiros que viram ambos jogar.

Laércio
Enviado por Laércio em 08/11/2009
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