o menino do calção desbotado e olhos tristes

O homem que vende peixes guiava sua velha perua pelas ruas do bairro pobre. – Olha o peixe, gritava em seu aparelho de som, peixe fresquinho senhora, abrindo os olhinhos e balançando o rabinho. Venha freguesa, traga a vasilha, traga a vasilha.

Na porta de um barraco sem pinturas na parede, ao lado de um cachorro sarnento e magricela, o menino do calção desbotado e olhos tristes assistia curioso. Sua mãe não comprava peixe já a um bom tempo, o dinheiro andava difícil, e o trabalho mais ainda. O menino do calção desbotado coçou a barriga e continuou olhando a perua passar devagar. – Olha o peixe senhora, traga a vasilha que o peixe tá fresquinho fresquinho freguesa; Sardinha, Curvina, Pescada Branca. Olha o peixe balançando o rabinho.

De repente, saídos de traz de um muro em ruínas, dois marginais armados saltam do lado do motorista e o fazem parar com as armas em punho. – É um assalto “tiu”. Não reage não. Passa a grana, passa a grana senão morre.

O peixeiro, desesperado, pega o pouco dinheiro que tem no porta-luvas e entrega aos dois bandidos que se afastam correndo.

-- Levaram toda minha féria, e agora... como é que eu faço... como é que vou pagar minha dívida... ah! Meu Deus. Ah! Meu Deus. Gritava desolado.

Nem viu quando um menino de calção desbotado e olhos tristes se aproximou e estendeu alguma coisa em sua direção, o motorista ainda meio atordoado levou sua mão em direção à mão do garoto que lhe deu uma moeda, uma simples moeda de vinte centavos, e voltou, lentamente, para sua casa.

O homem que vende peixes em sua perua velha, olhou para aquela moeda na palma de sua mão e seus olhos se encheram de água, mas ele não quis chorar. Entrou novamente em seu veículo de trabalho e seguiu bairro a fora gritando seu jargão: -- Olha o peixe freguesa, tá fresquinho fresquinho, Sardinha, Curvina, Pescada Branca. Olha o peixe balançando o rabinho senhora.

Na porta de um barraco sem pinturas na parede, ao lado de um cachorro sarnento e magricela, o menino do calção desbotado e olhos tristes assistia curioso. Sua mãe não comprava peixe já a um bom tempo...