Um niver em alto estilo
Em um Pub anglo-brasileiro, na cidade das pontes, de igrejas e mulheres solteiras, foram acesas as velinhas de uma quase balsaquiana. A apagadora das velinhas estava em formato de presente, entrelaçada em um laço dourado na cintura, quase chegando ao esterno. Não sei o motivo, mas ela não estava tão alegre como nos seus últimos aniversários, talvez estivesse reflexiva com o tempo, seu aliado na experiência da vida e antagonista da sua jovialidade.
A princípio, seus convidados se debruçavam sobre a mesa, que lembrava uma taberna das antigas, onde se degustava vinho, bebida ausente naquele Pub, assim pude constatar ao ler o cardápio várias vezes na esperança de encontrar alguma bebida coerente com a minha "bolsa-balada". Porém, como retrucou um dos convidados, o senhor Jeans, não sei se era Kelvin Klein ou Use Stop, mas fez lembrar aquelas propagandas de cigarros das antigas onde o galã aparecia montado em um cavalo soltando fumaça pelas narinas todo de azul; - os preços não iriam baixar, e muito menos encontrar algo inferior a dois reais.
Quando eu cheguei, já estavam presentes à mesa uma blusa citilante, vestida em uma pessoa tristonha, sedada pelo alcóol, uma outra blusa que parecia de gestação, acompanhada com um gigante de meias curtas, o senhor Djean e Pandora, a anfitriã aniversariante sem a sua caixa.
Depois foram chegando aquele vestido preto de malha duvidosa, colado naqueles lipídios e bustos volumosos, acompanhada de um outro vestidinho berge e um casaquinho que poderia muito bem ter deixado em casa sem expressividade alguma , digo a vestiaria, porque horas depois, aquele corpo soube se expressar muito bem, dançando agarradinho com "os Olhos de 15 anos" daquele rapaz envolvente de beleza singular, e quando está dançando a pista se abre para ele.
Estava também presente um penteado afro, que parecia a rodia da bá da sinhá moça, contido na sua endumentária convencional e já batizada em outras comemorações, reflexivo em sua tangirosca, admirando a beleza de um boné branco.
Também apareceu um tom sobre tom de cores pastéis, utilizando umas bijouterias em ouro envelhecido, que lembravam os enfeites natalinos, confesso que estava bonita, mas ela também tem uma beleza singular, porém faltou algo que a deixasse diferente das manequins das grandes magazines. Estava acompanhada dos "olhos de 15 anos" e de uma colega que era o próprio "semáfaro amarelo", sempre atenta ao que estava acontecendo. Apareceram também um casal comun aos demais casais, sem nada acrescentar, e por último um rapaz "sangrando em vermelho ardente", lembrando Almodôvar e seus personagens inquietos.
Quanto à comida nesse "niver de alto estilo", presenciei um prato com carne e batatas fritas as quais eu ajudei a devorar, mesmo já tendo jantado em casa como todos da mesa fizeram. Também foi pedido um caldinho que quase não saía,e a solicitante já estava apresentando sintomas "pitipatológicos", fazendo seus amigos recorrerem várias vezes ao garçon Tarcísio (com seus braços longos, de mãos firmes e forte de corpo volumoso, negro no caule e na raiz).
A parte dançante do Pub abriu à meia noite, como se fosse uma abóbora de contos de fadas modernos, na sua decoração de bandeiras de países. A França estava ausente, mas a minha camisa nada oficial, comprada na liquidação de uma loja de malhas popular antes da derrota do time françês, porém, representava muito bem suas cores de liberdade, igualdade e fratenidade.
E a torta de aniversário continuava no frizeer, à espera do salão esvaziar para cantarem o parabéns coletivo. Ninguém levou máquina digital, talvez por não terem comprado as pilhas; o jeito foi apelar para o retratista tecnológico do Bob flash; foi bom, nos deram a sensação de estrelas por alguns segundos. Quando essas fotos estiverem on-line, nós estaremos ao vivo, alguns com os mesmos olhares, o mesmo sorrisso na face sincera, entretanto todos vão estar mais velhos à espera de que algo aconteça, talvez um novo aniversário...