SOFRIMENTOS REAIS OU IMAGINÁRIOS
Quando chegamos a este mundo precisamos de bem pouco para sermos felizes. Alimento, agasalho, um colinho e estamos plenamente satisfeitos.
Muito cedo, porém, começamos a criar necessidades mil que, quando não satisfeitas, nos fazem sofrer.
Logo descobrimos que não podemos ter todos os brinquedos da vitrine, comer todos os doces do tabuleiro, brincar em todos os parques infantis, fazer todos os passeios imagináveis.
E sofremos!
Chega a adolescência e com ela uma porção de conflitos que não sabemos como administrar.
Queremos alguma coisa, mas nem sabemos bem o quê.
Achamos que nossos pais são incompreensivos e nos proíbem tudo aquilo que queremos. Muitas vezes só queremos por ser proibido.
Gostaríamos de ser mais bonitas e fazer mais sucesso entre os garotos pelos quais começamos a nos interessar.
Se tivermos cabelos lisos, gostaríamos de tê-los crespos, se são crespos queremos alisá-los, se nossos olhos são castanhos, queríamos que fossem verdes, se forem verdes, os queríamos azuis.
Embora vivendo a fase mais tranqüila, descompromissada e protegida, sentimo-nos infelizes porque colocamos sempre a felicidade muito longe de nós.
E sofremos!
Chegamos então à idade adulta e achamos que merecemos o melhor, sempre, e invejamos todos que têm alguma coisa a mais do que nós, uma casa melhor, um carro mais luxuoso, uma jóia mais valiosa.
E quando casamos, então, queremos nada menos do que TUDO, dinheiro, saúde, carinho, divertimentos, etc. (principalmente o etc.).
O marido tem que ser um Arcanjo, pois um simples Anjo é muito pouco para nós.
E como os arcanjos estão longe daqui e não há fadas a nossa disposição para realizar todos os nossos desejos, nos desiludimos, revoltamos ou deprimimos.
E sofremos!
Mas depois chega a melhor parte da existência. A terceira, quarta ou sei lá qual idade.
Só então começamos a viver com intensidade, livre de preocupações tolas.
Não nos preocupamos mais com o que não temos porque temos tudo o que precisamos e na realidade precisamos de muito pouco para ser feliz.
Voltamos então à condição do bebê que só precisa do que realmente é preciso para viver.
E a vida se nos apresenta maravilhosa, deliciosa e nos vamos vivendo os nossos últimos tempos na terra procurando usufruir cada momento com a sofreguidão de uma criança que come o último pedacinho de seu tablete de chocolate, devagar, apreciando todo o sabor, tentando fazê-lo durar mais um pouco.
Quem viver, verá!