A juventude pede socorro
Encontrei um jovem de 33 anos em Itabaiana, que muito me impressionou. Cristiano, o nome do cara, é filho do artesão Raminho da Sela, já falecido, e sobrinho do meu amigo professor Luiz Gonzaga, neto do velho “Paraíba”. Quem puxa aos seus não degenera, diz o ditado popular. E não estou plagiando ninguém que isso é uma verdade universal: tudo que é vivo morre, e tudo que morre renasce, porque o DNA continua a existir nos parentes.
Cristiano foi visitar o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, onde concedeu entrevista gravada pelo cinegrafista Jacinto Moreno. Nas suas declarações, transparece a vivacidade, a inteligência, a compreensão da natureza das coisas e o significado dos fatos. Falou do seu avô, o “Paraíba”, por quem diz ter grande admiração. “Paraíba” foi uma pessoa muito inteligente e alegre, um folião brincador, um homem prazenteiro, algo libidinoso, algo libertino como são todos os que amam a vida, mas não a levam a sério, afinal ninguém sai vivo dela mesmo.
O neto de “Paraíba” confessou que leu meu livro “História de Itabaiana em versos” e mudou sua visão da terra natal. “Antes eu não sabia que Itabaiana foi tão importante cultural e economicamente no Estado, que teve tantos homens valorosos e geniais, tantos artistas. Depois que li seu livro, passei a ver minha cidade com outros olhos e a gostar mais dela”, reconheceu Cristiano.
Ele diz que aprecia cinema, citando o filme brasileiro “Amarelo Manga” como uma obra que viu e ficou impressionado. Lamentou que em Itabaiana não mais cinema. “A cachaça nas praças, os falsos forrós de Saia Rodada e Calcinha Preta é o mais próximo de cultura que a nossa juventude dispõe”, lastima.
Cristiano espera que o Ponto de Cultura seja uma instância apontando algum caminho para a juventude, “que pede socorro”, através da educação e da cultura. “É só saber trabalhar com os jovens, compreendendo seu cotidiano e suas necessidades”, ensina.
Saí de Itabaiana com a idade que Cristiano tem agora. Vinte e um anos depois, retorno para esse desafio que é como o trabalho de Sísifo, que depois de morto foi condenado a empurrar uma imensa pedra montanha acima, dia após dia. A pedra sempre cai antes de chegar no topo, mas Sísifo recomeça o trabalho pacientemente. É assim a tarefa de quem planta no deserto, que é tentar produzir cultura na aridez de uma terra que esqueceu costumes e tradições dos antepassados. Pessoas como o jovem Cristiano é que dão esperança de que a semente cresça e frutifique.