DOIS IRMÃOS
Éramos adolescentes. Eu, menina de treze anos e Gabriel de dez. Magrinho, bem menor que eu, e nos entendíamos ás mil maravilhas.
Éramos muito divertidos, unidos. Não sei qual de nós fazia os carrinhos ou caminhões de toco de madeira. Mas a estrada riscada e cavada no barranco, em zig-zag, era bem feita, e eu adorava caprichar naquilo. Todo brinquedo tinha sempre uma proposta preliminar, seguida de um plano. Depois era cada um com seu carrinho subindo e descendo aquela longa estrada, buzinando, apitando, freando e falando coisas. Conversávamos muito. Era lindo e bom.
Aliás, ao longo da vida fomos unidos e ele sempre foi o meu maior amor, dos três aos sessenta.
Ele se libertou do meu domínio (involuntário, era apenas natural, como tudo de bom da vida é do nosso domínio, como a flor, o perfume, a alegria e o prazer, que Deus nos dá, tudo é da gente), e, em um dia qualquer, em que eu estava próxima à janela do quarto, aberta para a área lateral da casa, uma comprida área e ele estava lá no fim desse espaço, cheguei á janela e um objeto caiu da minha mão na área. E gritei: “Pega aqui pra mim!”
Ele não se moveu do lugar e gritou:
_ “Não vou!”
Foi tão verdadeiro, que entendi perfeitamente que terminara o meu mando e que ele assumia sua própria individualidade.
Respeitei-o. E o amei mais ainda.
Nessa época eu amava também o meu pai, que começava a fazer distinção entre a filha e o filho menores. Suas atenções de fazer caminhada pela linha da estrada de ferro, pulando pontilhões, e num papo maravilhoso que ele sabia ser, caíram sobre meu irmão. Começou a sair só com o ele e recusando que eu fosse.
Eu ficava na janela da varanda vendo a rua e passantes. Nada pensava.
Sentida.
Foi um golpe duro, uma escolha. E o Gabriel era muito bom, precoce e veio a ser mais inteligente que eu, mais falante, mais solto.
Eu tinha inveja dos papos que os dois faziam, na linha da estrada de ferro.. Pai e filho.
Engoli.
Eu nunca ainda cogitara no que é o amor.
Eu já sentia o amor, mas não sabia.
Éramos adolescentes. Eu, menina de treze anos e Gabriel de dez. Magrinho, bem menor que eu, e nos entendíamos ás mil maravilhas.
Éramos muito divertidos, unidos. Não sei qual de nós fazia os carrinhos ou caminhões de toco de madeira. Mas a estrada riscada e cavada no barranco, em zig-zag, era bem feita, e eu adorava caprichar naquilo. Todo brinquedo tinha sempre uma proposta preliminar, seguida de um plano. Depois era cada um com seu carrinho subindo e descendo aquela longa estrada, buzinando, apitando, freando e falando coisas. Conversávamos muito. Era lindo e bom.
Aliás, ao longo da vida fomos unidos e ele sempre foi o meu maior amor, dos três aos sessenta.
Ele se libertou do meu domínio (involuntário, era apenas natural, como tudo de bom da vida é do nosso domínio, como a flor, o perfume, a alegria e o prazer, que Deus nos dá, tudo é da gente), e, em um dia qualquer, em que eu estava próxima à janela do quarto, aberta para a área lateral da casa, uma comprida área e ele estava lá no fim desse espaço, cheguei á janela e um objeto caiu da minha mão na área. E gritei: “Pega aqui pra mim!”
Ele não se moveu do lugar e gritou:
_ “Não vou!”
Foi tão verdadeiro, que entendi perfeitamente que terminara o meu mando e que ele assumia sua própria individualidade.
Respeitei-o. E o amei mais ainda.
Nessa época eu amava também o meu pai, que começava a fazer distinção entre a filha e o filho menores. Suas atenções de fazer caminhada pela linha da estrada de ferro, pulando pontilhões, e num papo maravilhoso que ele sabia ser, caíram sobre meu irmão. Começou a sair só com o ele e recusando que eu fosse.
Eu ficava na janela da varanda vendo a rua e passantes. Nada pensava.
Sentida.
Foi um golpe duro, uma escolha. E o Gabriel era muito bom, precoce e veio a ser mais inteligente que eu, mais falante, mais solto.
Eu tinha inveja dos papos que os dois faziam, na linha da estrada de ferro.. Pai e filho.
Engoli.
Eu nunca ainda cogitara no que é o amor.
Eu já sentia o amor, mas não sabia.