O mistério da casa amaldiçoada

Sei que tive vontade incontrolável de voltar a morar naquela casa da minha infância, cuja lembrança me encanta. Papai se opôs ferrenhamente, mas Samuel me ajudou, até me indicou para uma vaga no hospital de Toulouse. Agora, aqui instalada em companhia de Aurore, começo a perceber que certos mistérios rondam nossas vidas. Os vizinhos dizem que a casa é amaldiçoada. Será por causa daquele incêndio medonho que matou a mãe de Adrien? Será por causa da tristeza de mamãe? Não, me recuso a pensar que papai tenha provocado o incêndio. A tristeza de mamãe vinha lá de suas origens, nada conheceu de seu lado materno vietnamita, foi entregue ainda bebê ao pai, oficial francês. Ele a amava, mas a madrasta e seus filhos a rejeitaram. Assim que ele morreu trataram de abandoná-la. Casou com papai, que a amava tanto! Criou Adrien como um filho querido e depois teve a mim, a filha de traços orientais parecida com ela! Por que será que não era feliz? E aquele povo a falar em maldição...

Um dia, mexendo nos móveis encostados no sótão, Aurore encontrou numa gaveta uma bolsinha embolorada. Dentro dela, uma folha de papel dobrada. Com as mãos trêmulas fiquei ali sem saber se lia ou não lia. Podia ser uma bobagem qualquer. Mas também podia ser um segredo de mamãe...

Acabei lendo, o que me deixou completamente atordoada. Tinha que descobrir o significado daquilo! Não adiantava perguntar a papai, ele não ia responder. Adrien desconversou. Resolvi eu mesma ir atrás do que me pareceu ser a chave de todo o mistério. Só me contentaria na hora em que soubesse tudo, mesmo que para isto despedaçasse meu coração.

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Nesse texto reescrevi parte da história de Pascale, personagem do livro Mensagem no Jardim, de Françoise Bourdin, cujo título original é L´Inconnue de Peyrolles.