LEMBRANÇA
 

 
         A Deyse lembrou algo doce do seu passado...

         Lembrei também igualmente da menina e o pai, em Belo Horizonte, indo ao Centro da cidade, numa praça grande, cheia de abacaxis e muitos caminhões descarregando abacaxis, num cheiro bom enchendo o ar.

O aroma da fruta é tão bom quanto chupá-la e mastigá-la em nacos grandes, no meio da fartura e do prazer de viver absolutamente aquele momento.
 
Pai e filha, nas manhãs de domingos ensolaradas de Belo Horizonte, a cidade mais linda até então, quando era urbanizada de ficus podados ao longo das avenidas, formando desenhos geométricos perfeitos. Na Praça Sete era um grande círculo, e dele irradiavam linhas da mesma árvore, igualmente podadas que ladeavam as avenidas que iam aos bairros, ruas lindas com nomes dos estados do Brasil.

         A menina, magrela, nove  anos, de tranças, no seu vestido de algodão leve, que a mãe fazia com toda mão de amor que não fala, faz.
          A que faz e a que veste, ambas nada dizem, mas sentem a felicidade do entendimento de amor que fala mais fundo, uma linguagem que não acaba mais nunca.

         O pai, um homem belo e feliz, nos seus quarenta e cinco anos, belos cabelos negros em ondas ao vento. Terno de panamá branco, desabotoado, ao vento e à alegria de viver, leva a filha pela mão e curtem as manhãs de domingo com aquele passeio e sabor de alegria e de abacaxis.