O GRANDE EVENTO

O GRANDE EVENTO

Todas as celebridades chegavam bem vestidas. Os convites tinham sido espalhados pelos quatro cantos do mundo. As agências de aluguel de “limusines”, pois eram poucas as que existiam naquele pequeno país asiático, estavam com algumas centenas de candidatos na lista de espera, na esperança de ainda chegar ao MEGA SHOW, dignamente como manda a tradição dos milionários.

Um palco imenso estava preparado, podia-se ver que a noite prometia. Entardecia, e fazia um pouco de frio, até que o céu se tornou todo cinzento e começou a cair os pequenos flocos de neve, muito delicados, e a multidão continuava a chegar algumas “madames” em seus casacos caríssimos, outros “gentlemen” se apertando e contendo a respiração para não arrebentar os botões da camisa.

A mídia estava toda lá, milhares de emissoras de televisão, rádio, e até comunicação intergaláctica lá estavam. Esperavam por este grande evento já muito tempo.

A multidão parou de entrar, os portões foram encerrados e teve inicio o grande show.

O que se ouviu em uníssono foi o Ohhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! Da multidão, que curiosa, aguardava voraz o que consumiria suas exigências excêntricas em matéria de diversão.

A música fúnebre começou a tocar, bailarinos começaram a bailar uma estranha ária de compositor clássico desconhecido. Com suas roupas negras, às vezes rasgadas, em frangalhos, contrastavam com o vestuário dos presentes. O jogo de luzes, ora brilhante, focando, os movimentos mágicos do bailado, ora turvo, fazendo a multidão imaginar o que ocorria...

Nas mensagens subliminares apareciam nos quatro grandes telões todas as vantagens de adquirir uma parte do grande empreendimento. Fascinante... Salões esportivos, cobertos e descobertos, um conjunto de piscinas, jardins suspensos, um mini shopping, com boutiques para todos os gostos, lojas de aluguel de roupas para ocasiões especiais, uma empresa encarregada de produzir sua festa, onde você não precisaria fazer nada, apenas pagar e assistir, fantástico. Uma pista para pouso de jatinhos, aeronaves pequenas e helicópteros, uma marina, alguns iates e um navio turístico imenso. Tudo muito perfeito, maravilhoso. O preço não foi revelado. Ao final do espetáculo, todas as celebridades receberam um aceno de muito obrigado, uma verdadeira curvatura, própria dos habitantes daquele pequeno país asiático. E à medida que iam se retirando recebiam um envelope que continha um cartão eletrônico com o nome gravado a ouro, uma cartinha, e uma senha.

Não sei quantos adquiriram uma parte no grande empreendimento. Eu saí horrorizada, pois era apenas uma das muitas tradutoras. E o que ouvi foi chocante que não ouso repetir.

O empreendimento “ETERNAL PARADISE” deve ter tido muito sucesso. Voltei para meu país de terceiro mundo e estou feliz de não ter tanto dinheiro para comprar o que ainda não sei se estou preparada para enfrentar. Um espaço num cemitério virtual. A idéia é luxuosa, economiza espaço, você mata saudades quantas vezes quiserem, pois pode assistir ao vídeo do funeral da cremação e tem todo aquele glamour de grande evento, imagine até sauna, existe para relaxar durante o velório, não é bem sauna, mas não sei falar aquele nome estranho que eles dão para uma tina de madeira com água quente que quase arranca a sua pele, Ah, quase ia esquecendo, quem parte, descansa, mas quem fica arrepiado de horror, encontra umas meninas bem alegres ou uns companheiros elegantes que fazem uma magia extrema e te levam aos píncaros do prazer de viver. Deixa para lá,

Não posso te contar todos os segredos, daí que você vai deixar de querer conhecer. Eu não gostei porque além de (I can’t afford), já fui queimada viva uma vida lá atrás e não gostei do cheiro de churrasco de carne humana.

O sol está brilhando lá fora e meu ar condicionado já não está dando conta, vou chamar meu protetor solar espalhar, ele pelo meu corpicho de meio baleia/sereia e cair na piscina lá no parque aquático do condomínio onde estou hospedada. O que vocês pensaram? é uma suíte de luxo sim, mas não sou tia de programa. Não se esqueçam estou trabalhando, estou traduzindo para um grupo de pequenos asiáticos, (não espalhem colecionadores de antiguidades, na verdade comerciantes de pedras preciosas). A única coisa que lamento aqui neste flat é que não tem meu “drink preferido” de star internacional, o meu costumeiro “blood Mary”. Na falta, atravesso a rua,vou no trailer em frente a praia e peço uma água de coco cheia de cachaça da boa. Tem um deles que fornece até Ipioca.

Aradia Rhianon

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 07/11/2009
Código do texto: T1909758
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