COISAS INÚTEIS / 03

Vai haver contestação. Alguns vão enumerar a utilidade das baratas. Sim, das baratas! Aquele inseto nojento, que dá arrepios só de olhar. Não vou replicar as opiniões em contrário. Até porque sei que tudo na natureza tem sua utilidade.

Segundo pesquisa na Internet, posso citar umas poucas (pouquíssimas, frente ao pavor que elas causam):

_ As urbanas não fariam muita falta.

_ As que vivem na natureza, têm importância para o ecossistema, pois atuam na reciclagem dos nutrientes, além de servirem de alimento a outras espécies.

_ Elas se alimentam de restos de animais e vegetais em decomposição. Isso é essencial para manter a floresta viva.

_ Sua função é limpar. Poderíamos compará-las a um urubu em miniatura (embora eu não troque 10 urubus por uma barata!).

Mas que são asquerosas, isso ninguém contesta. Confesso que eu passaria muito bem sem elas.

Apesar de ser sulina, detesto o inverno e sou fã do verão. Faça o calor que fizer, sou feliz no verão. Se não fossem as baratas! Toda regra tem exceção, e a barata é a exceção dos meus verões. Tenho fobia! Me dá arrepios, calorões, coração acelera, suo frio. Fico em pânico ao me deparar com aquele minúsculo inseto que, devido ao meu temor, adquire uma figura gigantesca. Elas andam por toda a parte, nos lugares inimagináveis.

Por que no inverno não aparecem? Somem. Essa é a única vantagem do frio: a ausência de baratas e as boas noites de sono.

Bem, a barata entra nas casas correndo, voando, botando ovo, saindo do ovo e sei lá o que mais. Pois até voar esses monstros podem! Tem baratas nas ruas, nas calçadas, nas árvores. Cidade grande, então, nem se fala! É o chamarisco das baratas. Nos boeiros, nos buracos, nos lixos.

Meu pavor é tanto que dedetizo a casa todos os verões. Pelo menos elas não invadem os meus domínios. E, se invadem, morrem. Meu ídolo no verão é o Rodox, aquele forte, que mata até pensamento. Tu fazes uma listinha nas entradas das portas, ela passa e, como respira pela barriga, em segundos está mais tonta que bêbado em festa de político. Fica lerda, dá umas voltinhas e vira de pernas pro ar. Pronto. Aí é só esperar o fim da barata. A gente pega uma pazinha de lixo e quando vai mexer com ela, o que acontece? A bichinha consegue se virar e, se tu te descuidares, sai caminhando! Tonta, mas sai! Até para morrer são difíceis. Dizem que ela é pré-histórica... Também pudera! Com esse vigor todo, até eu!

Pra concluir vou contar um fato acontecido há uns 6 anos atrás. Eu estava com a perna engessada, quebrada após uma queda. Noite, janela aberta, verão. Da cama, olho distraidamente para a cortina e o que vejo? Ela. Enorme, cascuda, preta (porque tem de várias cores), nojenta, me fitando. Eu pensei: vai vir direto prá cima de mim. Sim, porque barata adivinha e cai sempre no medroso. Pulando, num pé só, entrei no banheiro e fiquei espiando. Não deu outra! Ela aplumou aquelas asas horrendas e veio, num rasante, direto prá minha cama! E aí, fazer o que? Eu tinha que matá-la, senão adeus sono. Cai aqui, levanta lá, saí à cata da intrusa. Devo ter acordado os vizinhos... Porque, além de suar frio, eu grito a plenos pulmões. É inconsciente. Não consigo raciocinar. Não consigo comparar meu 1,65 cm com aquela coisinha de 3 ou 4 cm. Mas, enfim, vitória! Acabei com a barata!

Agora eu pergunto: será que vale aguentar esse pavor todo, em troca da "utilidade" da barata para o meio ambiente?

Ah! Descobri um único lugar do mundo onde as baratas não proliferam: as calotas polares. Estou pensando seriamente em passar meus verões no Polo Sul, convivendo com os pinguins! Alguém me acompanha?

Giustina
Enviado por Giustina em 07/11/2009
Reeditado em 06/01/2014
Código do texto: T1909417
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