De mendigo a popstar

Engraçado como as pessoas não dão valor as mínimas coisas que nos fazem bem e com o passar do tempo essas coisas vão ficando de uma tamanha importância, que essas mesmas pessoas que um dia desprezaram irão te dar valor.

Era uma quarta feira de novembro, estava eu com 3 amigos, Pépe, Rodrigo e Patrick na escada do colégio tocando violão e cantando Capital Inicial, Cazuza, Legião Urbana e outras clássicos da nossa música nacional, foi quando o porteiro do colégio, mais conhecido como "Brigadeiro", um cara meio marrento que vive com o relógio adiantado só para "barrar" agente quando chegamos 1 minuto atrasado, mandou agente sair da escada e disse que estávamos fazendo barulho.

Ainda tentamos discutir com ele, mas ele ameaçou chamar a coordenadora, que ia complicar bastante a nossa situação, com bastante raiva, agente só de curtição com a cara dele, fomos em direção a calçada do colégio que fica no centro da cidade de Duque de Caxias, isso era mais ou menos meio dia, horário da bastante movimento na cidade.

Infelizmente Patrick teve que partir, pois tinha que trabalhar. Eu e Rodrigo sentamos no chão da calçada e começamos a tocar e cantar enquanto Pépe com o seu boné na mão tentava arrumar uns trocados, o sol estava de rachar e mesmo assim agente estava curtindo muito aquela onda de mendigo, o "Sr. Brigadeiro" não estava gostando muito, mas ele não podia fazer nada pois estávamos fora do colégio.

Ninguém nos dava atenção, exceto os alunos do colégio, amigos nossos e professores que gostaram e deram uns trocados, avistei a professora de matemática, uma mulher muito extrovertida e brincalhona vindo em direção ao colégio, toquei uma música especialmente para ela, "Exagerado" de Cazuza, ela logo tirou do bolso várias moedas, e com muita admiração ao nosso trabalho colocou os trocados no boné do Pépe, assim também o professor de informática muito amigo nosso, deu alguns trocados também, não que estivéssemos precisando de dinheiro, era só de curtição mesmo, ou até uma forma de protesto contra aquele porteiro esnobe.

Ficamos até uma hora e meia lá, tocando, cantando e encantando quem passava ali, mesmo sem colaborar com dinheiro as pessoas olhavam e pelo menos abriam um sorriso, e isso nos alegrava bastante, mas era hora de ir embora, a fome batia na porta do estômago que já começava a pedir comida, fomos cada um para o seu lar feliz, e ainda conseguimos nove reais.

Quinta feira, eu acordei no susto, já eram sete e trinta o horário em que eu deveria estar no colégio, mesmo me arrumando depressa cheguei oito e vinte no colégio, logo assim que eu cheguei, Patrick e Pépe vieram até mim dizendo que fomos chamados para tocar na rádio do colégio.

Era um sentimento de nervosismo e ao mesmo tempo de alegria, verdadeiramente algo inexplicável, fomos para o estúdio da rádio e fizemos o melhor possível, todo o nosso melhor estava ali, em uma música, não sabíamos, mas o nosso ídolo, dono da musica que tocamos, era amigo da diretora da rádio e estava nos ouvindo, ele ligou para a rádio e disse que a gente tinha talento, disse também que gostaria muito de nos conhecer e queria nos ouvir tocar pessoalmente.

Quem diria, na quarta feira tocamos na calçada da Av. Presidente Kennedy, assim como moradores de rua, e na quinta tocamos na rádio do colégio com o nosso ídolo nos ouvindo e nos elogiando pelo telefone, quantas surpresas a vida nos oferece, não sabemos o dia de amanhã, o importante é ser feliz o máximo que se pode, na alegria e na tristeza, na fartura e na pobreza.

Lucas Patrocínio
Enviado por Lucas Patrocínio em 06/11/2009
Reeditado em 06/11/2009
Código do texto: T1908782