UM NOVO OLHAR DE RESSACA
Peruas, galinhas, patas, gatas, cadelas, piranhas, vacas, raposas, cobras, dragões, potrancas, baleias. Mal amadas, traidoras, dissimuladas, fofoqueiras, biscates, beatas, ordinárias.
Como entender os rótulos em torno do feminino? Por onde a mensagem circula? E suas entrelinhas? Como perpetuamos o feminino algemado?
Recorro à arte para pensar estas questões.
Uma das personagens mais conhecidas de Machado de Assis: "Capitu", não teve direito à palavra no "tribunal" do olhar acusador de Bentinho. Admiro imensamente as obras de Machado e creio em seu olhar crítico ao sinalizar que o personagem narrador determinasse suas verdades (e dúvidas em forma de verdade).
Porém, Capitu extrapolou a condição de personagem. É o arquétipo da dissimulação e contempla o feminino através dos "olhos de ressaca", numa condenação prévia, sem direito à defesa.
Quantas mulheres são vítimas de companheiros enciumados que constroem laços de poder e não de afeto com suas "posses"? E não é raro que estes homens, em sua fúria enciumada, acreditem que suas mulheres sejam realmente dissimuladas. E havendo (ou não) traições, a sentença do ciúme cego é dada. E mais um rótulo cultivado em torno desse feminino que não pode ser "confiável".
Vocês já repararam o grau de repetição da frase "ninguém entende uma mulher"?
Interessante recordar que os formadores de opinião, em maior número, até hoje são homens. Na ciência, filosofia e artes.
É o olhar predominantemente masculino que "dita" o pensamento sobre o feminino.
E então irão dizer que quem os criou foram as mães, as mulheres, como se os pais, os homens, fossem seres completamente alienígenas da estrutura familiar. E muitas vezes são. Porém o exemplo masculino continua fora das paredes de um lar, na rua ou na escola.
Mulheres, as rainhas dos "nós" que não atam nem desatam. O quanto somos, de fato, complicadas por "natureza" e o quanto reproduzimos o que nos é projetado?
Não é raro o elogio da amizade entre homens. O companheirismo e a lealdade sempre reconhecidos. Entre mulheres, o cenário muda. E o fantasma de "Capitu" entre nós, mais uma vez, surge.
Quantas vezes uma mulher escuta que não é verdadeiramente amiga e leal a outra mulher?
Suponho que mulheres e homens possam revelar os mesmos traços de caráter. E se os homens são mais reconhecidos de uma forma ou outra não significa, necessariamente, que as mulheres sejam menos leais, por exemplo. As pessoas podem ser tudo. Independente do gênero.
E não importa se esta crônica foi escrita por uma brava mulher ou uma mulher brava.
O que conta é alma que escreve. E aquela que lê.
(*) Imagem: Google
http://www.dolcevita.prosaeverso.net
Peruas, galinhas, patas, gatas, cadelas, piranhas, vacas, raposas, cobras, dragões, potrancas, baleias. Mal amadas, traidoras, dissimuladas, fofoqueiras, biscates, beatas, ordinárias.
Como entender os rótulos em torno do feminino? Por onde a mensagem circula? E suas entrelinhas? Como perpetuamos o feminino algemado?
Recorro à arte para pensar estas questões.
Uma das personagens mais conhecidas de Machado de Assis: "Capitu", não teve direito à palavra no "tribunal" do olhar acusador de Bentinho. Admiro imensamente as obras de Machado e creio em seu olhar crítico ao sinalizar que o personagem narrador determinasse suas verdades (e dúvidas em forma de verdade).
Porém, Capitu extrapolou a condição de personagem. É o arquétipo da dissimulação e contempla o feminino através dos "olhos de ressaca", numa condenação prévia, sem direito à defesa.
Quantas mulheres são vítimas de companheiros enciumados que constroem laços de poder e não de afeto com suas "posses"? E não é raro que estes homens, em sua fúria enciumada, acreditem que suas mulheres sejam realmente dissimuladas. E havendo (ou não) traições, a sentença do ciúme cego é dada. E mais um rótulo cultivado em torno desse feminino que não pode ser "confiável".
Vocês já repararam o grau de repetição da frase "ninguém entende uma mulher"?
Interessante recordar que os formadores de opinião, em maior número, até hoje são homens. Na ciência, filosofia e artes.
É o olhar predominantemente masculino que "dita" o pensamento sobre o feminino.
E então irão dizer que quem os criou foram as mães, as mulheres, como se os pais, os homens, fossem seres completamente alienígenas da estrutura familiar. E muitas vezes são. Porém o exemplo masculino continua fora das paredes de um lar, na rua ou na escola.
Mulheres, as rainhas dos "nós" que não atam nem desatam. O quanto somos, de fato, complicadas por "natureza" e o quanto reproduzimos o que nos é projetado?
Não é raro o elogio da amizade entre homens. O companheirismo e a lealdade sempre reconhecidos. Entre mulheres, o cenário muda. E o fantasma de "Capitu" entre nós, mais uma vez, surge.
Quantas vezes uma mulher escuta que não é verdadeiramente amiga e leal a outra mulher?
Suponho que mulheres e homens possam revelar os mesmos traços de caráter. E se os homens são mais reconhecidos de uma forma ou outra não significa, necessariamente, que as mulheres sejam menos leais, por exemplo. As pessoas podem ser tudo. Independente do gênero.
E não importa se esta crônica foi escrita por uma brava mulher ou uma mulher brava.
O que conta é alma que escreve. E aquela que lê.
(*) Imagem: Google
http://www.dolcevita.prosaeverso.net