DE LIVROS E JORNAIS
DE LIVROS E JORNAIS
Os escaninhos da nossa alma abrem e fecham a seu bel prazer, independentemente de nossa vontade. Para simplificar, penso que tudo seja uma questão de estado de alma. Há o imponderável por detrás do nosso querer, que jamais saberemos entender e menos explicar. Somos aspiração, expiração, introspecção e inspiração...
Somos coração e somos alma, somos profanos mas também sagrados, pois, que, com certeza carregamos dentro de nós a centelha divina.
Estamos sujeitos a toda a espécie de emoções, de contradições, de bênçãos e maldições. Somos tudo isso, e nada seríamos se em nós não palpitasse um coração com este sentimento de ser, que nos impulsiona a um sentir mais alto, mais alargado. Certamente sucumbiríamos mais facilmente ante certas vicissitudes.
Mas também temos nossos momentos de quase plenitude, ao recordar certos fatos que haverão de nos proporcionar a sensação de que a vida vale a pena. Como diria Fernando Pessoa: “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.
Todo este entrecho, por neste momento borbotar em turbilhão ao recordar as circunstâncias a que me levaram a publicar meus primeiros versos, num jornal que se chamava O Tempo, que há muito deixou de existir, da cidade do Rio Grande. Eram dois os periódicos daquela cidade O tempo, e o Cruzeiro do Sul. Os rio-grandinos de minha idade hão de se lembrar disso com certeza. Rio Grande apesar de hoje ter sua conceituada Universidade, também em termos de cultura andou em passos de caranguejo daquele tempo a esta parte. Teria eu meus 19 ou 20 anos naquele altura, e que haveria de se estabelecer um longo interregno, para retomar à continuidade da divulgação em jornais bem como através de livros, de minha despretensiosa obra literária.
Não fora o incentivo ou o empurrão em direção ao jornal pelas mãos do Jorge Walter Martins Gaertner, meu amigo, e amigo do simpático diretor e, redator daquele diário, pena não lembrar mais seu nome, pois tão longe vai esse tempo, certamente meus pirangueiros versos teriam ficado relegados ao ostracismo lá no fundo duma pequena gaveta, cujo destino seria irremediavelmente a cesta de lixo. O mesmo aconteceu quando da publicação do meu primeiro livro que foi de poesias, também constrangido em sua publicação por minhas filhas Lu e Kika. Por aí se vê o quanto é importante um incentivo, a ajuda amiga, na hora certa. Anjos transvestidos de gente que foram postos em nosso caminho, quantas vezes relegados ao pó do esquecimento ao passar dos anos, e, que, não fora eles, quem sabe nossas vidas seriam bem mais pobres e descoloridas.
Hoje quase véspera da 37ª. Feira do Livro de Pelotas, quando novamente lá estarei, com meu livro Antologia Poética, dia 6 de Novembro, recordo com doce saudade aquele tempo, da querida Noiva do Mar. É certo que nada na vida se repete, mas ao menos serve-nos de bálsamo e consolo o podermos relembrar os bons momentos, dum tempo em que o que menos importa é o tempo, para se construir sonhos, erguer castelos à fantasia pois, todo o tempo nos pertence, sem o pairar de nuvens carregadas no horizonte, ainda, que, fatalmente também elas haverão um dia, ainda que envoltas nas fímbrias do mistério, acontecer.
Eduardo de Almeida Farias
17.10.09