"Não ponha a colher..."(EC)
Aquelas meninas portoalegrenses!....
Se encontratavam na praia todos os verões,em todos os anos!E os anos não eram tantos,assim como as suas idades...Era o ponto alto das suas vidas,este encontro,chegando a adoecerem se não pudessem estar lá!
Lá era a casa da Cristina em Nova Tramandaí!
Mas parecia pertencer a cada uma.Era onde chegavam,metade no fusca,metade levadas pelos pais.E tomando conta,invadiam a sala,na maior intimidade com os espaços da casa!A casa da Cristina ficava no fim da rua,no começo das dunas.As dunas adoravam a casa,tentavam engoli-la todos os anos!...
As meninas já tinham a primeira missão ao chegar,depois de vencer a estrada,trocar pneus duas vezes na Freeway esburacada,chegar na rua em que atolavam o fusca (todo o ano),e cavavam para abrir a porta e as janelas da casa.Era conseguir uma escavadeira da prefeitura para tirar a areia que estava em volta da casa,por tudo!Sempre assim...
As meninas nem ligavam mais!Isto já fazia parte do pacote da diversão!Mas as duas avós,que tomavam conta do rebanho de mocinhas,todas amigas,nâo achavam a menor graça!O rebanho que crescia todos os anos,junto as responsabilidade de quem levava as meninas para a praia.E as avós ficavam furiosas!
Eram indignadas mesmo com o abandono da rua virada em areia,da casa semi-enterrada,que só viam no verão...A vó Nadir,vó da Cristina e dona da casa,mais furiosa do que a nossa,vó Leonor,amiga e parceira no cuidado com as netas e amigas.
-Maior trabalheira!Que areia 'marvada"!Que inferno este prefeito!Se paga imposto,luz e água para que?Cavar para encontrar a casa,qualquer dia destes?
Mas as meninas não consideravam a areia inimiga,pelo contrário!...
A casa semi-engolida tinha muitos encantos!
Nas noites de chuva,se divertiam imitando o coaxar dos sapos,atrapalhando o sono uma das outras com risadas!
Nas noites sem lua,brincavam de pisar nas estrelas refletidas nas poças pós-chuva nos buracos da estrada,que jamais evaporavam totalmente!
Nas noites de lua cheia,subiam no telhado da garagem,caminho de areia na parede,sem esforço.E sentadas nas telhas,admiravam aquela estrada prateada no mar,cheia de mistérios,que povoariam os sonhos mais tarde,enquanto trocavam segredos!
As duas avós dominavam a tribo,davam ordem e estabeleciam a paz no caos que era a casa,com tantas mocinhas!As meninas tinham hora para passear,acordar,dormir,sair,tomar sol,ou até picolé!Até porque algum trabalho elas,danadas,sempre davam mesmo!Há se davam...
Se alguma visita se queixava da rigidez de sua autoridade nas férias,elas diziam,sem pudores,pois assim se sentiam seguras na convivência com os humores adolescentes,verdadeiras generalas:
-"Sem palpites!Não ponha a colher onde você não é chamado!Não desarticule as gurias"! Avisavam de primeira.
E aquelas gurias seguiram felizes,tendo a areia como amiga e cúmplice,mais do que o mar!
Escondidas das avós,com o dedo escreviam o nome dos amados mais secretos,esperando que o vento levasse a mensagem direto para o coração e a vontade de cada um deles!A infância cada dia mais longe,cedendo lugar a novas emoções...
E assim foi a nossa saída da adolescência,nas dunas de Nova Tramandaí,onde a vida e as ondas do mar,sempre geladinho,passaram tão depressa que nem vimos...
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Para minha mana Su e minhas amigas jurássicas
Patrícia,Carla,Cristina,Joana,Karen,Anerose e Jaqueline
( turma da rua Araponga-bairro Três Figueiras )que tornam minha vida tão feliz por partilharmos,ainda hoje,o protagonismo de tantas histórias boas!
Brigeth
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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Não Ponha a Colher.
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